quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Cê não era educada assim... Os caras mexeram mesmo na sua cabeça"

Isso aí me foi dito por um primo querido, na ceia de Natal, enquanto eu, docemente, esperava que uma prima fosse servida.

Na boa, eu, às vezes, acho que essa balela de eu ter sido adotada foi coisa que inventaram. Não é possível que eu não tenha pelo menos um genzinho dos Siqueiras-Monteiros.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Ó, eu aqui, Vivinha da Silva, em Minas, com meu paizaço, quase dando "tchau" pra esse 2011 veio de guerra

Claro que este ia ser um post longuíssimo de reflexão etc e tal, acerca do ano em que quase passei pra Morada do Senhor, mas a conexão discada, lentíssima, não deixa. E preciso liberar a linha telefônica daqui pro povo todo desejar "Feliz Natal".

A propósito, meu povo, Feliz Natal pra nois tudo.

E que venga 2012.

Não sei quanto a vocês, mas eu tô legalzaça de 2011.

E, como diria Dr. Zeca Pagodinho: "Tando em cima da terra e embaixo do Céu, qualquer lugar, pra mim, tá bão".

Hasta.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tô viva!

Desculpa o sumiço, meu povo. Né nada, não. É só porque ainda tô me acostumando à rotina de trabalho e tenho chegado em casa muito cansada.

Agora, vou correr pro shiatsu e depois pra entrevista com a professora de canto. Ui. Babado. Depois, eu conto. Juro.

Hasta.

P.S.: A cabeça quase nem dói mais.
P.S.1: Em compensação, sonhei nessa noite que tava beijando na boca do Ney Matogrosso. Ai.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ok, ninguém disse que ia ser fácil

Só eu achei que ia ficar mais de dois meses sem trabalhar, indo ao inferno e voltando, e não ia estranhar a volta à rotina. Cansaço monstro agora, depois do terceiro dia de trabalho depois da Operação Quebra-Coco.

Em compensação, andei percebendo que não é o stress natural do trabalho nem a jornada diária que estão me cansando. A verdade é que eu me mexo igual a um trator, como se estivesse sempre atrasada, e, às vezes, me esqueço que preciso aprender a, no mínimo, me movimentar com mais leveza pro cérebro, o coitado, não ir se chacoalhando todo pelo mundo.

Ai.

Agora, né?

Alguém aí viu que tem uma nova técnica pra tratar de aneurisma cerebral sem ter que abrir o coco? Não, eu não sei os detalhes. Só vi as chamadas da matéria nos onlines ontem. Me recusei a ler, naturalmente.

Aliás, por falar em matéria, nem contei aqui o que prometi. O retorno ao trabalho foi o melhor possível, com todo o carinho do mundo do meu povo querido, e a cabeça aguentando o tranco sem maiores transtornos, sem nem doer muito.

Eu, agora dengosa, tô bem gostando do chamego em massa. Mas sinto que a aposta no jornal é até quando vai esse meu jeitinho quase doce e renovado, praticamete uma mulher de paz. Aun.

Pedala, Rozaninha, pedala

A vontade que tenho é a de passar a noite escrevendo aqui. Mas, depois de dois dias de trabalho, já de volta ao ritmo de sempre, não posso ficar dando mole em computador mais do que o estritamente necessário.

Fato é que meu pai voltou hoje pra Minas, depois de ficar ao meu lado desde que o pesadelo dos aneurismas começou, num agora longínquo 20 de setembro.

Sabe quando a gente tá aprendendo a andar de bicicleta e o pai da gente, certo de que a pequena anta já tem equilíbrio suficiente, dá aquele empurrão, com a bicicleta sem rodinha, sem nada, e o jeito é sair pedalando, catando cavaco? Pois é.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Depois eu conto como foi o primeiríssimo dia de trabalho depois da Operação Quebra-Coco. Muito soninho aqui agora. Nem trabalhei até tão tarde, não. Mas cheguei agora, no fim da noite, e fiquei de papo com meu pai, que, aliás, deve ir embora amanhã ou depois.

Sim, estou perto de passar minha primeira noite sozinha desde a operação.

Alguém me abraça.

sábado, 3 de dezembro de 2011

"Quem sabe eu ainda sou uma garotinha..."

Não me lembro o que, exatamente, senti quando faltavam menos de 48 horas pra eu ir pra escola pela primeira vez.

Mas sinto que deve ter sido algo bem perto do que me ocorre agora, no meu último sábado de 'folga' antes de voltar ao trabalho depois de mais de dois meses cuidando do coco.

É isso. Resumindo, é isso.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu sabia, eu sabia, eu sabia...

Não que eu ache ainda que tenho que raspar o cabelo todo. Acontece que, quando pensei nisso, me ocorreu que, já que rasparia só parte, correria o risco de o novo cabelo nascer diferente.

Adivinhem?

Não tive coragem de raspar tudo, e o cabelo que já tá começando a cobrir a cicatriz no coco não tem NENHUM cachinho. Nem unzinho. Tá, como se diz em Minas, "lisinhozim".

Sim, é possível que esteja nascendo assim porque, afinal de contas, vivo com uma faixinha pra cobrir a meia-careca. Acontece que, enquanto o cabelo não crescer todo, não há possibilidade de eu sair da toca sem faixa.

Alguém teria, assim, alguma ideia brilhante pra evitar que, daqui a alguns meses, eu tenha uma faixa de cabelo cinza liso me cobrindo a testa?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Faltam, exatamente, 96 horas pra eu voltar pro batente

Só me ocorrem perguntas básicas como:

Será que a bagunça no cérebro deixou alguma sequela que ainda não percebi?

Será que o povo vai reparar muito, tipo imediatamente, que eu tô, nesta ordem, mais gorducha, meio careca e caolha?

E se eu não tiver faixas, lencinhos e roupas suficientes pra combinar cinco mudas diferentes pra não repetir figurino de segunda a sexta?

Será que algum (a) tarado (a) vai pedir pra ver a cicatriz que agora carrego no coco?

Será que vou passar o primeiro dia ouvindo que, afinal de contas, sou uma "mulher de sorte" por ter descoberto três aneurismas no coco antes que eles explodissem e me levassem pra Morada do Senhor?

Será que vou ter o direito de falar algum palavrão quando algo der errado ou terei que me comportar qual fora um anjo renascido porque, afinal de contas, sou uma "mulher de sorte", praticamente um milagre de Deus?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mas, como nada pode ser perfeito,...

Além da vizinha de cima - fofa que se apressou pra resolver o pepino do vazamento no banheiro aqui de casa -, ao que parece, mais uma meia dúzia de moradores resolveu fazer obra no prédio e multiplicar por mil o barulho que meu coco consegue suportar agora.

E segue a ladainha

Vazamento aparentemente resolvido - ou pelo menos interrompido.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Começo a considerar a possibilidade de chamar um padre pra benzer o apê

Depois do quebra-quebra do meu banheiro ter, finalmente, ao que parece, conseguido resolver o vazamento daqui pro apê embaixo, hoje o meu banheiro amanheceu alagado.

Um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar o motivo.

Um vazamento do apartamento de cima pro meu, claro.

Alguma ideia brilhante?

sábado, 26 de novembro de 2011

"Eu não tenho mais a cara que eu tinha. No espelho, essa cara já não é minha"

Me olhei no espelho hoje de manhã, e me surpreendi ao perceber que, adivinhem?, a sobrancelha direita, que voltou caidinha da cirurgia, tá bem próxima da esquerda. Sei lá quando isso aconteceu, fato é que só hoje percebi que minha fuça já não está mais tão tortinha.

Considerando que a Rozane Monteiro que saiu da tal da cirurgia de crânio é um ser que nem eu conheço direito ainda, bem continuei me olhando no espelho, meio rindo de lado, meio quase às lágrimas, cantarolando uma antiga canção.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O obituário da Rozaninha e do pinto que ela matou há 40 anos

Jornalista tem uma mania desgraçada. Sempre que alguém famoso no País ou na própria redação está mais perto da morte do que merece, o chamado "obituário" vai sendo produzido mesmo com o personagem em questão ainda vivo. Por uma questão meramente prática: se a morte acontece quando estamos a minutos de encerrar a edição, a vida e a obra do defunto já estão prontas. E pronto.

Noves fora, zero, eu aqui, me preparando pra voltar ao trabalho ainda este ano, me ocorreu perguntar se o obituário do Lula, por exemplo, já estava pronto.

Ato contínuo comecei a desenvolver a seguinte obsessão: será que o meu próprio obituário chegou a ficar pronto? Tal reflexão, naturalmente, me levou a outra obsessão: estando eu, editora, morta, quem editaria minha biografia uma vez que a pessoa mais do que indicada pra corrigir certas incorreções, estaria, digamos, impedida?

E o pinto que eu apertei na mão até o bicho morrer, há 40 anos, em Niterói, só pra ver até onde o coitado resistia? Será que alguém sabe que escuto os últimos piados daquele pinto até hoje?

Será que alguém imagina que as metáforas geradas por esse crime hediondo por uma outrora cruel Rozaninha também me perturbam até hoje?

Falando nisso, será que alguém sabe que o Steve é, até hoje, o amor da minha vida?

E se ninguém nem pensou em fazer meu obituário porque, afinal de contas, o preço do papel-jornal anda pela hora da morte?

Teste de áudio pra vidinha que começa a voltar aos eixos aos poucos

O neurocirurgião me disse esta semana que as dores e a dormência que ainda sinto na cabeça e o inchaço na fuça estão dentro do esperado e que só me deixarão em paz mesmo em três ou quatro meses. Portanto, posso (e devo) ir me preparando pra retomar a rotina doméstica e de trabalho muito em breve.

- Está tudo dentro da normalidade. Já esteve muito pior, você sabe disso. Agora, quanto mais você ficar em casa, à toa, só pensando na cabeça, mais ela vai doer - filosofou o homem, com certa razão, devo admitir.

Aí, achei melhor já ir treinando:



Ou em bom português:

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"What a glorious feeling, I'm happy again..."

Tava eu aqui vendo o Ratinho com meu pai (pois é), quando, por conta dum equilibrista, começou a tocar "Singin' in the rain" na TV. Sem nem pensar, comecei a me sacudir toda, devagarinho, ao som da música, enquanto arrumava os remédios da noite pra tomar, na bancada da cozinha.

E fui cantarolando e jogando a cabecinha de um lado pro outro, sem nem perceber que a mesma - ó, que danada - nem doeu.

Melhor ainda: só fui reparar que a cabeça deveria ter doído quando a música acabou.

Solta o verbo, Eugeeeneeeee:

Vou até falar bem baixinho: o pedreiro, agora, tem a certeza de que achou o vazamento; quebrou mais um pouco meu banheirinho querido; e jura que, agora - não, a-go-ra... - resolveu o babado.

Repitam comigo "Pai Nosso que estais no céu..."

Aqui jaz um outrora banheiro fashion


O mais irônico é que o pedreiro que tá cavucando atrás do vazamento é o mesmo que reformou todo o apê há uns cinco anos. Tá cortando a própria carne e, melhor de tudo, não pode nem pensar em falar mal de quem fez o serviço. Aun.

Quebradeira recomeça daqui a pouco. Ai.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Alguém me interna de novo, por favor, antes que eu...

... conte mais algum podre horroroso sobre a minha pessoa.

No gogó: "Já parti em tantos barcos, já chorei em tanto cais..."

Ai, vou chorar tudo de novo.

Gosto do Moacyr Franco e pronto

A edição deste clipe é de quinta, mas foi o único que achei com a versão inteira desta música, tal da 'Pedágio', do Moacyr Franco.

Sim, é o que parece. Sou fã do sujeito desde menina. O fofo cantou esta coisa no Silvio Santos no domingo - pois é, eu agora vejo Silvio Santos e botar a culpa só no meu pai seria uma covardia sem dó. E eu me acabei de chorar.

Pronto, falei.

Falei que o pedreiro foi certeiro, né?

Comemorei cedo demais. Ao que parece, ele não quebrou exatamente onde era o problema e o quebra-ninho deve continuar hoje ou amanhã e deve ser muito, mas muito pior. É claro que o vazamento continua, só que, agora, claro, pro meu banheiro. Aun.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Continua a saga da mulher de "sorte" aqui

Depois de ter dado a "sorte" de descobrir uma plantação de aneurismas no meu cérebro antes de eles estourarem, acabo de dar a "sorte" de descobrir que o vazamento pro banheiro do apê embaixo é do meu tanque.

Cagança total. Mas, ao menos, a quebradeira por hoje já acabou, a poeirada não foi tanta assim, e o pedreiro só voltará daqui a uma semana. Ele já achou o vazamento e já consertou, mas agora precisa eperar e orar pra que isso resolva o problema e não tenha que quebrar mais nada aqui.

E vamu que vamu.

E, depois do quebra-coco, começa o quebra-banheiro no Largo

Não sei nem o que dizer, a não ser, naturalmente: "FUI". Me mandando agora daqui pra fazer alguma coisa que ainda não decidi se vai ser caminhar devagarinho no Aterro ou achar um hotel e me enfiar pelos próximos cinco dias.

Meu pai, coitado, é quem ficará aqui dando conta do pedreiro pra recém-operada alérgica a poeira não ter um piripaque. Tudo isso por conta de um maldito vazamento no banheiro no apê embaixo do meu. Valha-me Deus.

Hasta.

domingo, 20 de novembro de 2011

"The time has come to pay our share"

Tava aqui fazendo nadica de nada, som enfiado na orelha, ouvi isso, por acaso, no rádio. Gamei de cara, cismei de postar aqui procês terem uma ideia de como vai minha alma neste mau humor de hoje - coisa que, claro, todo mundo aqui quer saber, certo? Só fui descobrir depois que trata-se dos Midnight Oil, uns roqueiros ativistas australianos que, entre outras coisas, lutam (ou lutavam, a banda acabou) ao lado dos aborígenes.

Coolzaço! Tomem aí "Beds Are Burning".

Tem bigoduda no Largo

Tô fazendo uma listinha de perguntas pra fazer pro neuro na terça-feira, que incluem as pontadas que ainda sinto até a tontura que me dá às vezes. Hoje, por exemplo, depois de ter me animado e ido à feira ontem e carregado sacolas um pouquinho além do peso, tô amargando mais dores do que já estava. Dã.

Mas, enfim, ao que interessa. A vontade que me dá é a de também perguntar ao doutor sobre quando poderei, mesmo, pintar o cabelo - a previsão inicial é de seis meses na maior grisalhice porque a tinta não interage bem com ciatrizes no couro cabeludo em geral - e quando poderei, por exemplo, soltar a depiladora na minha fuça - não creio que o arranca-arranca de buço e sobrancelha vão me fazer algum bem agora.

Mas, sei lá, achei que ele podia achar que eu sou uma louca duma fútil.

Aí, claro, resolvi eliminar pelo menos uma das perguntas fúteis e me mandei pra farmácia hoje pra comprar um "creme depilatório" pra tacar no buço.

Claro que, apesar de o teste no antebraço ter dado negativo pra alergia e de o buço ter, de fato, desaparecido, carrego agora uma tênue faixa vermelha perto do nariz, qual fora bigode de menino-rápaz.

É ridícula.

Arde.

E piorou o que já tava muito ruim demais.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ok, passei o dia pensando na maldita pergunta: "E se eu tivesse morrido na cirurgia?"

Aí, por mais de uma vez hoje, minha alma voltou lá pro inverno de 2004, quando cansei de cantarolar, baixinho, o refrão dessa música vagando, sozinha, com a neve na fuça pelas ruas de Praga - morei por pouco mais de um ano na capital da República Tcheca.

Comiiiigo: "But I still haven´t found what I'm looking for..."

Só passando pra dar "oi". Mau humor mais monstro do que o de ontem. Vou poupá-los dos detalhes do tal do 'pós-operatório', que, ao que parece, deve demorar mais uns 497 dias pra passar.

Hasta.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Num tô boa não V

Olhando pro brinquedinho novo, acaba de me ocorrer que já vou começar 2012 com dívida.

E as pontadas que ainda me restam na cabeça me fazem lembrar que o checão do anestesista bate amanhã.

Ai.

Pausa no mau humor

Tô tão caidinha hoje - me sentindo uma mané caolha e cabeçuda - e ainda na pilha de ver o velho notebook se aproximar do falecimento, que acabei esquecendo de, afinal de contas, comemorar o presentinho que fui obrigada a me dar.

Tendo dito isto, agora é oficial: já blogo aqui do computz novo. O-ba.

Num tô boa não IV

Comprei um fone de ouvido superbacama, profissa, pra usar no meu notebook novo.

Tá bem aqui do meu lado.

Pendurado na cadeira.

Novíssimo, todo, todo, vai ter que ficar de molho até eu estar na mais perfeita.

Por quê? Porque me aperta demais a cabeça, que, como sabemos, ainda está se refazendo do quebra-coco.

Dã.

Num tô boa não III.I

Na minha imitação, eu era o Gene Kelly, ok? Me poupem.

Num tô boa não III

Muita gente sabe que eu adoro musicais.

Mas, acho, muito pouca gente sabe que, aos 9 anos, eu quebrei o dedo mindinho do pé direito tentando imitar a coreografia do Gene Kelly com o Jerry (parceiro do Tom) no filme Marujos do Amor no meu quarto, entulhado com um armário embutido, uma estante e duas camas de solteiro. Foi numa delas, aliás, que meu pé direito se acabou.

Hoje, fuçando alguns DVDs aqui pra testar o notebook novo (o anterior tá praticamente falecido), achei o filme e não consigo parar de ver a tal coreografia.

Aí, lembrei que dançar, por exemplo, é algo que ainda não posso fazer.

A versão não é grande coisa, mas foi a melhor que achei no YouTube. Ah, sim, eu quebrei o dedo mindinho do pé quando "imitava" o trecho que começa em 2.27.00 do clipe.

Num tô boa não II

Aí, quando bate um mau humor monstro, como hoje, fecho o olho esquerdo - que voltou da cirurgia só com a miopiazinha de sempre - e passo a olhar o mundo só pelo olho direito, que voltou bichadaço da cirurgia do quebra-coco. Só pra eu deixar de ser mané e não esquecer, nunca, nem por um segundo, que as coisas poderiam ser muito, mas muito piores mesmo.

Num tô boa não I

Sabe quando alguém muito jovem caminha com alguém muito velhinho e, de vez em quando, se distrai, dispara na frente e tem que ficar parando pra esperar o leseira alcançar o passo?

Saí pra uma curta caminhada hoje de manhã com meu pai, de 88 anos, pra já ir desenferrujando os ossos.

Adivinha que ser humano de 45 anos agora tá ficando pra trás?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A verdade dos fatos é a seguinte

Passei tanto tempo atropelada por tanta dor de agulha me furando, gente me abrindo o coco e costurando de volta, bolha inchando na testa que, sem sacanagem, acho que só agora tá caindo a ficha acerca do seguinte fato:

ME ABRIRAM O COCO PORQUE TRÊS ANEURISMAS ESTAVAM INSTALADOS NO MEU CÉREBRO, COSTURARAM DE VOLTA, E EU SOBREVIVI COM UMA SEQUELAZINHA RIDÍCULA (SE CONSIDERARMOS O QUE PODIA TER ACONTECIDO).

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Desculpe aí, meu povo, é que tô tão lesada ainda, que só agora tô me dando conta do tamanho do babado. Reflexo retardado (com trocadilho) total.

Sei lá de que, exatamente, eu tô com medo. A questão é que tá me dando um medo da moléstia de retomar a vidinha de sempre. Vai que eu tenho alguma missão a cumprir e, pelo visto, ninguém vai me falar qual é.

Ai.

Pronto, falei.

domingo, 13 de novembro de 2011

Lógica mineira em estado puro

- É aqui, pai, onde tá inchado ainda. Tá doendo o tempo todo e dói demais quando eu passo a mão.

- Então, para de passar a mão, uai.

sábado, 12 de novembro de 2011

Alguém me abraça!

Meu quebra-coco faz um mês hoje.

"Do you believe in Rock'n Roll? Can music save your moral soul?... I started singin': 'Bye, bye, Miss American Pie'..." No gogó, Seu André!!!!! (*)

- Doutor, falta muito tempo pra acabar? - perguntei, ontem, com os olhos entupidos de, com certeza, todos os tipos de gel que devem caber aquele consultório; mais um par de lentes de contato especiais, que devem ter sido fabricadas em algum galpão tcheco do governo dos anos 70 pra cuidar de imperialistas; fachoS de luz e flasheS na fuça, naturalmente.

- Uns quatro minutinhos.

Incapaz, de nascença, de contar de 1 a 60 repetidas vezes, no tempo dos relógios, preferi cantar mentalmente a música mais comprida que me ocorreu.

So, ladies and gentlemen, please welcome Mr. Don McLean:



(*) "Seu André" é um ser humano que, eu diria, tem por essa música a mesma obsessão que eu. Ave, Andrew!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Cês viram o RJTV hoje à tarde? Não? Nem eu

Passei longos 30 minutos numa clínica de Botafogo, que tem umas 200 TVs ligadas o tempo todo, totalmente "cega", com litros de colírio e anestésico nos olhos, cobertos por gaze e um par de óculos escuros ridículos, meio parecidos com óculos de mergulho.

Era a preparação prum exame infernal, que fui obrigada a suportar enquanto meus colegas dos telejornais davam as últimas informações sobre a prisão da anta do Nem da Rocinha.

Meu pai, claro, ia dando uma de legenda do meu lado.

Não sei nem o que eu senti e aprendi nos meus 30 minutos de "cegueira". Muito. Muito estranho.

Quanto ao resultado dos exames que fiz no olho direito (cuja visão ficou bichadinha depois da cirurgia) nos últimos dias, nenhuma grande surpresa. Só a confirmação do que eu já sabia e/ou intuía. A presença de um aneurisma no meu nervo óptico (meu Deus, não sei mais se isso tem "p") direito e a cirurgia me deixaram, mesmo, sequelas irreversíveis. Significa que meu olho direito jamais voltará a ser o que era. Em compensação, o médico pediu paciência (à pessoa errada, claro) porque deverá haver alguma recuperação da visão nos próximos três meses. Só então, aconselhou o homem, deverei fazer novos exames e pensar em fazer novos óculos.

Mas a notícia de arrepiar, mesmo, veio ao fim do exame. Se eu não tivesse operado pra fazer a tal da clipagem dos aneurismas, eu ficaria cega do olho direito. Significa que, mesmo que não estourasse, o aneurisma do nervo óptico tava se espalhando tanto, que, em algum momento, ele iria jantar meu olho direito.

Sim, é o que parece. Qual fora um cão - que é, como sabemos, a cara do dono -, um dos meus aneurismas era gorducho. Me poupem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

E nem chorar eu posso

Sério, mesmo, a cabeça tá doendo demais. Sinto que foi por conta do sacode-sacode da ida ao hospital ontem. Mas admito que tô entre suportar a dor, digna, me entupindo dos remédios recomendados pelos neuros e ter um ataque de perereca, pra lembrar ao mundo como eu tô na merda. Ataque de perereca sem chorar, claro, porque, como eu já aprendi com meus neuros queridos e por experiência própria desde a cirurgia, chorar aumenta a tal da pressão intracraniana e faz tudo ficar imensamente pior.

Pronto, falei.

Cabeça doendo demais, olho direito enxergando menos do que já estava, muito mal-estar. O que pode ser pior?

A síndica me dizer, hoje de manhã, que tem vazamento do meu banheiro pro apartamento embaixo, e que "vai ter que quebrar".

Que tal?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Maria do Quebra-Coco e os buracos do Paes

Na minha modesta opinião, a nível de cidadã, o prefeito Eduardo Paes até merece umas críticas, etc e tal. Mas não nutro pela criatura um ódio visceral, é fato.

Aliás, não nutria.

Hoje, quando tive que pegar no hospital uns documentos pra pedir reembolso ao plano de saúde, deu vontade de sequestrar o prefeito, abrir-lhe o coco, sapecar logo 17 pontos na fuça e fazê-lo passar por cada buraco no asfalto no trajeto entre o Largo do Machado e Olaria.

Pronto, falei.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Colher de pau, colher de ferro, quem peidou que vá pro inferno"

O que isso tem a ver com meu caos cerebral? Nada. Só que meu pai sacou isso hoje, enquanto procurava uma colher de pau pra me ajudar a esquentar o almoço, e eu não consegui parar de rir até agora.

Outra do universo mineiro, quando o mesmo pai carregava a mesma filha, pouquinho tempo depois da cirurgia, ainda no hospital, eu mal conseguindo andar, ele imitando mendigo manco: "São Serafim, São Serafim, quem não der fica assim."

E quem quiser que conte outra.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Não quero simplificar o inferno no qual ando instalada, mas...

... quase fui às lágrimas hoje de manhã, quando percebi que já consigo ouvir som com os fones do MP3 enfiados nas orelhas. A dor na cabeça me impedia. No caso, era um belo dum Dire Straits na Rádio Paradiso - pois é, sou uma pessoa-rádio. Cool!

Só não tá dando ainda pra acompanhar a batida do som com a cabecinha sacolejando pro lado. Mas isso, como sabemos, é só uma questão de tempo.

Meu Deus, acaba de me ocorrer: como é que eu vou dar mole pra algum macho deste planeta - uma gente que mora no meu coração - sem virar a cabecinha pro lado, praticamente minha marca registrada?

Tá, tá, é só uma questão de tempo, eu sei, eu sei, passou, passou.

So, ladies and gentlemen, please welcome Sir Mark Knopfler e o som que encheu esta alma de alegria hoje de manhã:



Ah, sim, bom dia a todos.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dã: só eu não sabia

Foi numa conversa besta hoje com o neuro, no consultório do gajo, aonde fui pra tirar os pontos e fazer minha listinha de perguntinhas difíceis pro doutor. Descobri, por exemplo, que vou ter que ficar seis meses sem pintar o cabelo, uma sacanagem sem dó nestes tempos de um pouco da cabeça raspada e baixíssima autoestima.

Lá pelas tantas, contando que eu tava muito agitada, irritada, dormindo mal e chorando muito, mesmo com um calmante numa dose micro e mesmo "feliz da vida" porque voltei pra casa depois de 30 e tantos dias de hospital, perguntei se ele podia me dar algo pra me aquietar um pouco mais.

Sem nem pensar mais, me dei conta ali, mesmo, diante do neuro, que, nesta confusão que começou no dia 22 de setembro - dia da internação -, eu nem tive muito tempo pra sofrer direito. Foi tudo muito rápido demais.

Pisquei um olho, descobri que tava com um aneurisma. Pisquei o outro, tava com dois. Pisquei os dois, tinha uma junta médica me abrindo o crânio e descobrindo que, na verdade, eram três.

Aí, quando pensei em deprimir, ainda no hospital, me dei conta de que o olho direito tava bichado e de que me crescia uma estranha bolha na testa, 'complicaçãozinha' do pós-operatório com a qual fui agraciada.

Livre da tal bolha na testa, mas ainda com dores na cabeça, na região da cirurgia, me dei conta, só depois que voltei pra casa, de que o olho bichado é o desafio de verdade que ficou. É com ele que vou ter que brigar este mês, igual a uma gata enlouquecida, pra continuar a viver do meu ofício. É com a perda de boa parte da visão de um olho que vou ter que aprender a conviver o mais rápido possível

A diferença é que aqui, em casa, não tem campainha à beira da cama pra acionar o povo da enfermagem pra vir correndo e nem CTI no andar de cima pro caso de algo der muito errado.

Sim, é o que parece: de repente, hoje, no consultório do doutor, me dei conta de que tô é com um medo da moléstia de retomar a minha vida com um corpo um pouquinho diferente daquele que foi internado em Olaria num certo 22 de setembro de 2011.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Reunião no Céu

Sempre que me vejo diante de alguma situação que me tira totalmente - mesmo - do prumo, imagino que minha ficha anda muito suja ou, no mínimo, tem algum anjo da guarda de muito mau humor lá em riba. Aí, fico imaginando como deve ter sido a reunião pra me sacanear desta vez.

Anjo 1 - Vem cá, a gente já não tinha combinado que ia dar um tempo e parar de infernizar a vida da nossa amiga?

Anjo 2 - Já falei que não sou amigo de gente. E olha essa boca suja. Aqui, ninguém "inferniza" a vida de ninguém. Isso é verbo da concorrência.

Anjo 1 - Tá bom, ô, santo, você sabe muito bem de quem eu tô falando. A gente não tinha combinado... Aliás, o Chefe já não tinha mandado a gente deixar a mulher em paz depois daquela parada do canalha que deu uma volta nela e tal?

Anjo 2 - Eu sei, eu sei... Mas, ao que parece, você se esqueceu de que, nesse meio tempo, ela já trabalhou pra político e pra publicitário E voltou a trabalhar em jornal. Precisava de um novo susto, sim.

Anjo 1 - Tudo bem, concordo com o novo susto. Mas três aneurismas cerebrais não é um pouco demais, não?

Anjo 2 - Ela já não sobreviveu?

Anjo 1 - Tudo bem, mas tá meio caolha e triste de marré-deci.

Anjo 2 - Triste porque é fresca. Devia era ficar feliz de ter saído viva do meu sustinho.

Anjo 1 - "Sustinho"? Não podia ser, pelo menos, um aneurisma só? Do tipo que aquela coisa com o cateter resolve? Não, aí não tem graça, né? Tinha que mandar logo três pela fuça da pobre e ainda abrir a cabeça da mulher igual a um coco.

Anjo 2 - Quem trabalhou pra político e pra publicitário e voltou pra jornal foi ela. Agora guenta.

Toca o telefone vermelho.

Anjo 1 - Atende aí se tu é macho.

Anjo 2 - Anjo não tem sexo.

Anjo 1 - Nem culhão, pelo visto, né?

Telefone insiste.

Anjo 1 - Saco... Alô... Bom dia, Chefe... O Anjo 2? Tá, sim... Tá aqui na minha frente...

Anjo 2 - S...e...n...h...o...r?... Mas eu estava discutindo justamente o caso desta mulher aqui com o Anjo 1...

Anjo 1 - Quer me tirar fora dessa, palhaço?

Anjo 2 - ... Aí, eu lembrei que, depois da nossa última reunião, ela trabalhou pra político e pra publicitário e voltou pra jornal. Precisava, portanto, de um sustinho... O quê... Senhor?... Ah, o Senhor não concorda?... O político é mais ou menos do bem, e o publicitário ela chutou assim que viu que era um picareta? É verdade, sim, Senhor... Mas e o jornal?... Ah, o jornal é a vocação da moça... Mas Senhor...

Anjo 1 - Tu não cansa de pagar mico, não?

Anjo 2 - Agora, a gente tem que compensar a moça, é isso, Senhor?... Sim, Senhor... Entendi... Mas, como, Senhor?... Sim, Senhor...

Anjo 1 - Desculpe, mas tenho que perguntar: o que, assim, o Chefe, sugeriu que a gente fizesse pra compensar a louca?

Anjo 2 - Nada. Ele falou só: "Dá teu jeito".

Anjo 1 - Aun. Tadinho. Boa sorte.

Anjo 2 - Como assim? Tu não vai me ajudar?

Anjo 1 - Claro que vou. Com informação: o Sinatra já morreu; o Chico Buarque já encontrou a nova mulher da vida dele; e o George Clooney parece que é gay, mesmo. Ah, e aquele que a louca agora diz que ama não dá nenhuma bola pra ela - é só admiração e carinho mesmo.

Anjo 2 - Só admiração e carinho mesmo?

Anjo 1 - Juro.

Anjo 2 - Jura por quem?

Anjo 1 - Adivinha.

sábado, 29 de outubro de 2011

Quantos aí sabem que estamos a pouquíssimos dias do Halloween?

Eu, por exemplo, sei. Porque estou antenadíssima com as festas que nosso país importou de nações ao Norte do Equador? Claro que não. Foi pura associação de ideias: por que outro motivo a escola do lado do meu prédio estaria tocando, com certa frequência, a tarde inteira, aos berros, pruma turba ignara fantasiada de monstros, a versão clássica de "Thriller", do veio Mike?

Na boa, não consigo nem tentar descrever o que sinto com esses decibéis todos sendo processados numa cabeça que tem 17 pontos e uma bolha na testa apertada com uma faixa de tecido, até o vazamento na meninge estancar, como me mandou fazer meu bom neuro.

E, como diria o zumbi duas-caras da coreografia, já que não posso vencê-los...



(para quem não tiver muita paciência, a música, mesmo, começa em 4:40)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tá tudo muito lindo, tá tudo muito bão: mas o tal do "repouso absoluto" é de enlouquecer

Na boa, foi mal aí, mas tá impossível manter o bom humor hoje aqui no cafofo, sem poder caminhar como gostaria lá embaixo, com os movimentos da cabeça limitados pra dor não me derrubar, mais o olho direito enxergando muito mal, o que me tira totalmente o equilíbrio.

Ah, sim, isso tudo com uma diarreia insana causada, talvez, pela imensa quantidade de remédios que tô tomando ao mesmo tempo, sei lá.

Argh. É o famoso "tá foda", galera.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Minha mais nova obsessão: raspo o cabelo todo de uma vez ou deixo só a faixa desmatada pelos doutores?

O que acho é que raspando tudo de uma vez logo, o cabelo nascerá uniforme. Por outro lado, também acho que ficar carequinha, sem precisar realmente, é maluquice total.

Noves fora nada, fiquem aí com o anúncio da Natura, que não sai da minha cabeça (com trocadilho, por favor) neste momento de dilema:

Não falei antes porque estava em fase de negação. Mas, agora, que tô aos poucos fazendo as pazes com tudo o que não é avental verde, a realidade grita

Eu tive a capacidade de engordar na temporada no hospital.

Ridículo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Eu, hoje, sou a moça que anda devagar no vuco-vuco do Largo do Machado e quase mata os apressados de ódio

Desde ontem - quando voltei pra casa -, tenho pensado muito em quem terá sido o ser humano vingativo ou o chato do querubim que me rogou a praga de ter que encarar uma cirurgia de "clipagem de três aneurismas", que é o nome todo do inferno que me tirou do gramado aos 45 do primeiro tempo.

Que nunca fui flor que se cheirasse, não é segredo pra quem me conhece. E esse blog, acho, dá uma ideia pra quem não me conhece. Ainda assim, duvido que alguém - humano ou o tal do anjo torto - tenha rogado, com todas as letras, praga tão específica: "Tomara que essa vaca descubra que tem três aneurismas e tenha que abrir a cabeça, tomar 17 pontos, ficar quase cega do olho direito e ainda ter uma complicação que vai lhe criar um galo gigante na testa e fazer a cirurgia em si parecer retirada de verruga."

Não, não pode caber tanto ódio e tanta criatividade num único ser.

Mas, se a ideia era me enfiar a minha própria arrogância em algum orifício que esteja a mais de 20cm do meu crânio - um pouco de clemência, por caridade! - e me fazer inverter a prosa aos 45, acertou na mosca o praguejador.

Eu, hoje, de volta a minha casa, com a cabeça costurada e uma tontura insana, não posso guardar a roupa passada lá em cima, no armário; não posso ficar horas no celular com os amigos; não posso blogar pelo tempo que desejo; não posso me sacudir toda, enquanto escrevo, ao som do CD novo do Chico - ainda é novo, né? Tudo isso me dói a cabeça. Também não poderia consertar o pinguim da geladeira, que a Zefa sempre deixa torto. Mas - foi mal aí, doutor - olhar praquele pinguim torto tava doendo mais do que doeu subir no banco e consertar.

Eu, hoje, sou a moça que anda devagar no vuco-vuco do Largo do Machado pra ir do meu prédio até a farmácia, aqui em frente, comprar todos os remédios - daquelas que quase me matam de irritação quando corro atrasada pra qualquer lugar, atrasada que sempre estou. Sou também a que não entende direito, de primeira, o que o moço da farmácia falou - daquelas que irritam qualquer ser humano normal que está imediatamente atrás.

E sou aquela que anda de lenço fashion pra disfarçar a carequice discreta, uns 2cm a partir da testa, e os tais 17 pontos, que, se eu fosse punk, juro que iria virar uma imensa tatoo de uma lacraia roxa. É engraçado como eu sinto que posso ler a mente de cada uma das pessoas que me conhecem aqui no bairro e me viram hoje: "Ih, coitada! Será que é câncer?". Deu vontade de ir logo me explicando: "Não é câncer, não, meu amor, foram só três aneurismas". Mas, sei lá, as pessoas sabem tão pouco sobre aneurisma, que era capaz de acharem que eu estava só inventando uma história "bacana" pra disfarçar.

Enfim, eu hoje, aos 45, sou a moça que, por enquanto, só caminha amparada no braço do meu pai querido, quase 88 anos de pura travessura.

Honey, I'm home!!!! Mermo!!!!!! Tô 'de altos' desde ontem à noite!!!!

Tá tudo tão confuso ainda, que nem sei direito o que escrever. Parece que fiquei fora do País quase 40 dias. Parece que nunca morei aqui. Parece que morri e reencarnei. Sei lá mais o que parece.

A verdade é que cheguei em casa ontem, no fim do dia, tão apatetada, com dor ainda, que a primeira coisa que fiz foi comprar todos os remédios, tomar o que devia e cair na cama, pra dormir igual a uma pedra. Agora, espero o almoço que Penha está fazendo - Penha é o anjo da guarda que cuidou de minha mãe, morta em 2009, e que agora cuida do meu pai, que também está aqui no cafofo.

É isso. Resumindo, é isso. Depois, eu volto pra contar mais. ´

Inté.

domingo, 23 de outubro de 2011

Baseado em fatos reais

Sabe aqueles filmes patéticos, "baseados em fatos reais", quase sempre contando histórias de superação humana, envolvendo algum americano fo-da que descobriu o valor da vida, mantendo sorriso na fuça mesmo diante de algum diagnóstico horroroso que vai deixá-lo careca, quase cego e, provavelmente, paralítico?

Pois é, depois de dias preocupada com o chifre que me apareceu na testa por conta de um "vazamento" pós-operatório, percebi que consigo quase ler do olho direito, que saiu completamente cego da cirurgia. Aí, depois disso, lembrei aqui hoje que outro risco que eu corria era o de perder os movimentos do lado esquerdo do corpo, o que me pregaria a uma cadeira de rodas talvez pro resto da vida. Por conta disso, lembrei que amarguei algum tempo no CTI até perceber que conseguia mexer pé e mão esquerdos e dias até perceber que podia andar - a ordem era não me deixar sair da maca, o que gerou certa apreensão, antes inimaginável na minha modesta biografia.

Imediatamente penso em todos aqueles que passaram por esses momentos de angústia, por qualquer motivo, e, ao contrário de mim, tiveram que entubar o destino e se reinventar diante das novas limitações.

Francamente, não sei se eu teria força de continuar vivendo com um riso na fuça se meu destino fosse outro.

É pra todos eles que dedico este blog e o que mais vier desse susto que a vida resolveu me pregar.

sábado, 22 de outubro de 2011

Tava aqui pensando

Considerando que é ÓBVIO que estou pagando TODOS os meus pecados, concluo, naturalmente, que, quando sair daqui, posso começar a pecar de novo, certo?

Alguma sugestão de qual poderia ser meu primeiro pecado?

Por que não pulo da janela?

Porque estou no terceiro andar, tem uma laje logo abaixo da janela, e o máximo que conseguiria seria uma transferência pra emergência da ortopedia.

Sim, é o que parece: hoje é meu 31º dia de internação

É isso.

Nem sei mais o que dizer.

Há uma remotíssima chance de alta ainda no fim de semana, mas prefiro só afirmar algo quanto a isso quando estiver de volta ao meu Largo do Machado querido.

Ai.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Como eu mesma já disse aqui: a esperança é a última que morre

A paciência é a primeira.

Quero ir embora deste lugar!!!!!!!!!!!! Tipo agora!!!!!!!!!!!!!!!

Noticiário rápido da cela 319, às vésperas do 31º dia de pena em Olaria

Como diria o outro: ganha contornos dramáticos a permanência na cela 319. Acho que não saio nem no fim de semana. "Complicaçãozinha" no pós-operatório tá sendo contraatacada com remédio, cujo efeito ainda está em "observação".

É isso. Resumindo, é isso.

Me fui.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Blogueira de folga forçada

Meu povo, vou dar uma sumida de uns dois ou três dias.

Uma coisa básica: rola uma "complicaçãozinha" - um bolhão de água na testa -, que piora com a minha conhecida incapacidade de ficar quieta na cama e calada. Portanto, até o fim da semana, que é quando deverei ter alta, vou ficar "de altos" daqui, tá?

Vou, no máximo, tentar blogar algum comentário do BlackBerry veio de guerra, que ninguém me tira da cabeceira.

Inté.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Nada, não. Só a conta da anestesia.

Uma vida (a minha, por acaso) vale mais que isso. Eu sei, eu sei.

Já tomei bronca de uma amiga só porque tô babando de ódio do valor que vou ter que pagar e das lágrimas que rolarão até o plano reembolsar um valor que há de variar entre zero e o real.

Fui.

Último boletim médico sobre Dona Maria Rozane, da cela 319

Alta ainda esta semana. Eu até sei que dia seria, mas só acredito quando estiver no meu cafofo, no Largo do Machado.

P.S.: Pena cumprida até agora: 27 dias

"Eu fico com a pureza da resposta das crianças: 'É a vida, é bonita e é bonita. S'imbora, povo'"

Vocês acharam, mesmo, que eu ia sobreviver sem postar companheiro Gonzaga Jr. aqui?

Tolinhos.

"Pai, eu esqueci como é que reza o Pai Nosso"

- Peraí, minha filha. É assim: Pai Nosso, que estais no Céu...

Momento de desespero quando a dor na cabeça chegou a níveis insuportáveis, os remédios não faziam mais efeito, a visão do olho direito não me dava nem uns 20% do cenário, e eu senti o cheiro da morte no ar do quarto do hospital.

Claro que só meu pai querido podia me acudir.

"Esta é a Maria Rozane, leito 20: lúcida, orientada, cooperativa. Fala bastante. Pergunta demais"

Juro que ouvi isso dum enfermeiro, que passava o plantão prum colega, no CTI, onde fiquei por 72 longas horas. O "orientada" é por conta do fato de eu saber meu nome, onde estava e o motivo de estar internada - coisas que os "desorientados" desconhecem. O "cooperativa" é porque eu não arrancava o curativo, nem me recusava a tomar o remédio. O "fala bastante" e o "pergunta demais" são porque... Well, acho que num carecem de explicação, né?

Aposto qualquer dinheiro que, se eles fossem todos fãs de cinema e pudessem cantar e dançar no CTI, só teriam uma única trilha:

Ladies and gentlemen, please welcome "How do you solve a problem like Maria?"... ("Como se resolve um problema como Maria"?..."), de "A Noviça Rebelde", naturalmente.

Honey, I'm home!

Voltei, meu povo! Com uma cicatriz na fuça, muita dor na cabeça ainda, o olho direito meio contundido e uma vontade da porra de viver. Tenho 200 coisas pra contar. Mas vou contando aos pouquinhos, tá. Não tô podendo ainda ficar muito tempo sentada, muito menos forçando a vista no computador.

Sei que a cicatriz vai, em algum momento, deixar de ser a única coisa que aparece no meu rosto, como agora. Já sei que sobrevivi a uma cirurgia maluca e ando sendo vista como um pequeno milagre ambulante aqui - havia o risco de eu não andar mais e de ficar cega do olho direito; mas, por ora, a única sequela é a visão reduzida do mesmo olho, problema que ainda pode retroceder.

Ah, sim, uma novidade: depois que cheguei aqui no hospital, o aneurisma encontrado num exame de rotina "virou" dois - acharam mais um - e, na mesa de operação, encontraram um terceiro. Portanto, é o que parece. Nascida em 18 de setembro, acabo de ganhar outra data da aniversário: 12 de outubro, que foi o dia da cirurgia. Oremos!

Mas uma coisa não me sai da cabeça. Com essa cicatriz na cara (está acima da linha do couro cabeludo, e o cabelo foi raspado por parcos centímetros) e com a informação de que fiquei com aqueles dois pinos perto da orelha enquanto era operada para que o crânio não mexesse de jeito nenhum, só penso numa coisa: tô os corno do Frankenstein - calma, os parafusos foram só na cirurga, isto é só uma piada.

E lembrei, ato contínuo, de uma comédia com o Gene Wilder e o Marty Feldman - "O Jovem Frankenstein" -, que adoro. Boto uma cena aqui que é a versão debochada do que juro que senti nos primeiros minutos depois da operação: 'será que trocaram meu cérebro'?

Na cena, o jovem herdeiro do médico doido (Wilder) acaba de levar um bom dum susto ao "finalizar" seu "projeto" e mas ver que sua criatura era maluca. Aí, ele lembra que mandou o criado (Feldman) ao necrotério (acho) para buscar o cérebro que daria vida ao monstro. Ele desconfia de que algo está muito errado e pergunta se o cérebro era dum gênio, como ele tinha mandado a anta buscar. Claro que não era, e o fofo do criado manda na fuça do cientista perguntador que o cérebro era "de um tal de Ab". Pois "Ab" é o início da palavra inglesa "abnormal", que ele jurava ser o nome de alguém - eu tô com preguiça de ver agora, mas acho que ele acaba derrubando o vidro do cérebro que o Dr. Frankenstein manda buscar e improvisa.

Divirtam-se:

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Agora, eu vou, meu povo. Hasta mañana!

"What will this day be like? I wonder... What will my future be? I wonder..."



Juro que tentei a cena original, mas, a essa altura, nem tenho tempo mais de procurar no YouTube. Fiquem aí com a tal da música que a tal da noviça começa cantando "Como vai ser este dia? Fico pensando... Como vai ser meu futuro? Fico pensando..."

Na boa, cês acharam, mesmo, que iam ficar sem ter que aturar "A Noviça Rebelde" aqui? Olha que nem contei que foi o primeiro filme que vi na minha vida, aos 4 ou 5 anos, e que foi meu pai quem me explicou como é que aquela "poeirinha" saindo do projetor virava gente cantando e dançando na tela, etc, etc, etc.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Mesmo a quem não tem fé a fé costuma acompanhar, pelo sim, pelo não". Ave Gil!

O Plantão do Dodói... informa: a cirurgia passou pras 11 da manhã de amanhã (quarta)

Tudo deve durar, juntando preparação e ida pro CTI, umas oito horas. Mas meu celular vai estar ligado, com algum porta-voz de La Famiglia.

Ok, admito: botar Sinatra cantando "My Way" até me pareceu uma ideia cool, brilhante, mesmo, mas tá acabando comigo agora

Essa parada de "And now the end is near and so I face the final curtain" (*), que são os primeiros versos da canção, tá me dando nos nervos.

(*) "E agora o fim está próximo e, então, eu encaro a última cortina".

Esqueci de dizer que a foto do "post celestial" lá embaixo foi tirada da janela da minha querida cela 319, neste meu 20º dia de internação

E vou me acabar de comer esfiha lá do árabe do Largo do Machado, que meu pai acaba de me trazer, e botar Sinatra cantando "My Way" aqui. Vai que...

Este post celestial é só pra anunciar que a abertura do meu coco já tem dia e hora



Vai ser amanhã, dia de Nossa Senhora Aparecida, às 14h. Tô aceitando de reza forte a tambor.

P.S.: Não, eu não me lembro de ter tido tanto medo em alguma outra ocasião na minha vida.

P.S.1: A confusão que me vai na alma agora, com um genuíno medo de morrer, só perde, acho, pra dor que senti no enterro de minha mãezinha querida, há dois anos.

P.S.2: Será que já dá pra minha veinha me ajudar lá de riba?

Entendi: isso tudo é só um pesadelo, eu sou só uma escritora sonâmbula e vocês, caros leitores, não passam de fruto da minha imaginação, claro

Na boa, não sei o que me dá mais nos nervos: a espera pela autorização da cirurgia em si - o nome é "craniotomia", aprendi hoje - ou a explicação patética para cada etapa da demora.

Tendo dito isso, caros leitores, por motivos de força maior, deverei me ausentar por algumas horas hoje daqui do meu diário de bordo. Tenho, na verdade, dois afazeres inadiáveis: tentar ocupar a mente com qualquer coisa que não tenha a ver com aneurismas em geral (= à pilha de jornais, revistas, livros e DVDs que tenho aqui) e chorar até ficar com dó de mim.

Fui.

Inté.

Uma hora, hoje ainda, eu volto, e, de preferência, com alguma novidade dessa ópera bufa.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Post especial para quarentões em geral: mordam-se de inveja os que curtiam o The Mary Tyler Moore Show há uns 250 anos

Meu pai acabou de me trazer de casa minha caixa de DVDs da primeira temporada do "The Mary Tyler Moore Show" - série que eu assistia na TV aqui, pirralha -, que comprei na pacata Minneapolis, quando ganhei uma bolsa pra jornalistas estrangeiros, em 2002.

Fiquem aí com a abertura do seriado e com uma confissão: no final, a fofa joga o gorro para cima, gesto que virou uma estátua numa praça qualquer de Minneapolis, onde é óbvio que tirei uma foto ridícula, pendurada no monumento. No coração, naquele dia, juro que me veio a terrível sensação de que boa parte dos motivos que me levaram a virar jornalista passou por essa comédia deliciosa dos anos 70.

Boca grande, claro, é mal de família

Desde 20 de setembro - que foi o dia em que descobri o primeiro aneurisma no meu coco -, neurocirurgiões passaram a ser uma gente que mora no meu coração.

E meu pai querido é um ser que mora no meu coração desde alguma outra encarnação.

O problema, dia desses, foi a interação das duas partes queridas durante a visita de rotina de um dos médicos que vão me abrir o coco.

Pergunta difícil pra lá, resposta assustadora pra cá, eu, jornalista amarelona, em algum momento, desisti de saber todos os detalhes da cirurgia. Até que meu pai, doce Nanão, carpinteiro por hobby de excelente cepa, que sabe tudo de serra, adivinhem, começou a interrogar o homem acerca da broca que iria ser utilizada na minha cabeça.

Na boa, não sei nem reproduzir o diálogo. Entrei imediatamente num stand by mode pra que meu cérebro - já bichado, o coitado - não registrasse nenhuma informação daquela conversa de "carpinteiros". Mas dei mole e acabei ouvindo que, em bom português, uma broca qualquer vai me abrir um pequeno furo na testa, que já vai estar sem a pele depois da incisão que será feita no meu couro cabeludo, claro. Ah, sim, esse "buraquinho" será ampliado com uma serra similar à uma que tenho a impressão de que meu pai chamou de "tico-tico".

Claro que, a certa altura, dei um grito quase tribal - "vem cá, será que dá pra parar com essa conversa?" -, mas ainda ouvi do meu doce pai, gaiato até o último suspiro da filha querida:

- Se o senhor precisar, doutor, eu tenho umas brocas em casa.

Em compensação, acabo de fazer os exercícios respiratórios com a fisioterapeuta aqui, na cela, ao som do Sinatra. Man, that's cool!

Fiquem aí com a trilha do inspira-expira meu de cada dia:

Ah, sim, hoje é meu 19º dia na cela 319, aqui, em Olaria. Agora, com TPM

Se alguém der "bom dia", leva com a mão na fuça - quando eu sair daqui; se eu sair daqui e se tiver condições de enfiar a mão na fuça de alguém, naturalmente.

Num tô nada bem.

Acerca do medo de morrer

Ok, a verdade é que o título brilhante aí em cima me ocorreu durante o café da manhã. Aí, pensei: "hoje, vou escrever algo genial e bem-humorado sobre o medo da morte", coisa que, devo dizer, nunca, nunquinha mesmo, senti, de verdade, nos meus 45 aninhos de pura travessura.

Ocorre que o fato é que amarelei total e perdi completamente a vontade de ficar falando sobre a possibiidade de eu não estar mais aqui, por exemplo, pra ver o Gugu e o Silvio Santos com meu pai no hospital, o que já virou rotina aqui na cela 319 - a cirurgia deverá ser na quarta ou na quinta, segundo a última bolsa de apostas.

Em compensação, já fiz o favor de me travestir de ser humano bem resolvido e já comecei a tomar providências práticas para o caso de eu morrer ou ficar em algum canto entre a razão e o estado vegetativo depois da cirurgia. São coisas do tipo deixar cheques assinados e as senhas dos meus cartões com meu pai pras despesas extras do hospital; informar a meu povo e ao hospital que quero que meus órgãos sejam doados - o que não deve incluir nem o fígado chumbado de tantos anos de cachaça nem os pulmões com enfisema, naturalmente -; e avisar que vou deixar de "herança" pro meu afilhado todos os meus pen drives e meu laptop com vários contos inacabados e os rascunhos do livro de crônicas de Praga, que nunca terminei quando morei lá, pra que ele dê o jeito dele de tornar públicos, nem que seja num blog - o que é uma sacanagem sem dó com o rapaz, eu sei.

É isso. Resumindo, é isso.

domingo, 9 de outubro de 2011

Foram tantas as emoções nesses últimos dias, que esqueci que tô em plena TPM

Considerando que a nova expectativa é que a cirurgia deve rolar na quarta ou na quinta e, depois, ficarei dois dias no CTI, um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar quando eu vou menstruar.

Na boa, por que, meu Deus, por quê?

Apesar de estar no 18º dia de detenção aqui, em Olaria, acordei num bom humor insuportável. Cantem comigo: "Smile, though your heart's aching..." (*)



A verdade dos fatos é que, apesar de todo o enlouquecimento por conta do zilhão de informações que tenho recebido dos médicos, não tenho nenhuma dúvida de que estou em excelentes mãos e tive ontem uma tarde divertidíssima com duas amigas de infância, minhas irmãs queridas.

E vamu que vamu.

(*) Esta é a cena final de "Tempos Modernos", do Chaplin, que também compôs a música-tema, "Smile". "Sorria, mesmo que seu coração esteja doendo..." é o primeiro verso da canção, que a gente ouve neste clipe, só no instrumental.

Eu e minha boca grande III

Outro diálogo com um dos neuros. Foi com o que me respondeu às perguntas que eu fiz sobre os riscos envolvidos na cirurgia; um cara que me mata de medo, é fato, mas que, verdade seja dita, me passa uma segurança quase divina, falo sério.

- Como é que vai ser a parada do cabelo, vai raspar só na frente, né? etc, etc, etc

- Você tá preocupada com o cabelo a essa altura?

- Cara, tu tá falando que eu posso sair daqui caolha e sem andar. Alguma coisa eu tenho que salvar neste corpo, uai.

Eu e minha boca grande II

Diálogo com outro neuro que vai participar da cirurgia, num dia desses:

- É verdade que tem um ossinho na frente de um dos aneurismas, o "binladenzinho"?

- Sim.

- E aí?

- Se precisar, a gente remove esse ossinho.

- Hein?!?

- Fica tranquila, não vai fazer falta, não.

Preferi rir amarelo e emudecer, engolindo duas perguntinhas básicas que me ocorreram: "Tu já combinou isso tudo com Deus?" e "Deus botou esse ossinho aí só pra sacanear quem tem aneurisma no lado direito da cabeça, né?"

Mas, sei lá, achei melhor não criar nenhum tipo de atrito com um dos caras que vão, quando o plano de saúde deixar, me abrir o coco.

Ando assim, quase sempre na paz - ênfase no "quase". Deve ser o Rivotril que me enfiam goela abaixo todo santo dia.

sábado, 8 de outubro de 2011

Eu e minha boca grande I

Por que paciente-jornalista interroga o neurocirurgião que vai lhe abrir o coco como se o homem fosse um entrevistado qualquer? A cada visita do doutor - que esteve aqui há pouco - e a cada interrogatório meu, aparece um novo risco envolvido na cirurgia.

Manjam bula de remédio, que fala daqueles efeitos colaterais que só algum islandês mutante de 95 anos teve em 1837?

Pois é.

Tava aqui pensando, enquanto olho pra vista de Olaria da janela da cela 319, no meu 17º dia de internação



O sujeito do plano de saúde que ainda não assinou a autorização da minha cirurgia não sabe a sorte que tem por eu não saber seu paradeiro neste lindo sábado de sol.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Novo teste de fotogenia. Tô treinaaaaaaaaaaaanu...

Ó o lenço fashion que ganhei hoje duma querida, que veio, com outros dois queridos, visitar o bunker de Olaria.

Alguém aí tem algum parente ou amigo médico?

Só pra me dar alta por uns 50 minutos pra eu ir lá em Jacarepaguá, rapidinho, pra enfiar a mão na fuça da anta do técnico que trocou "mm" por "cm" no laudo do meu último exame pré-operatório e voltar pra minha aprazível suíte 319?

Que ódio!

Claro que companheiro aneurisma continua sendo medido em milímetros, o que, como sabemos, já é problema demais na minha modesta biografia. Ah, sim, o outro aneurisma, menor, nosso "binladenzinho", continua escondido atrás dum osso, o covarde. Isso tudo acaba de me ser garantido por um dos neuros que vão abrir meu coco. Pois o homem olhou o exame, corrigiu o laudo na minha frente e me olhou com certa piedade, diante da minha estupidez por achar que eu poderia ter um aneurisma de 5 cm e estar aqui toda lépida desabafando na rede mundial de computadores à espera da cirurgia.

Mas, fora isso, tá tudo ótimo aqui, no Baixo Olaria, acreditem.

Se tá tudo bem aqui, no meu 16º dia no hospital? Tá, claro. O único probleminha é um aneurisma ter passado de 5mm pra 5 cm

Ao menos é o que diz o laudo do novo exame - aquele de Jacarepaguá -, que acabou de chegar aqui no quarto.

Portanto, das duas uma: ou isso é só um plano pra me enlouquecer ou essa história só piora.

Tá foda, meu povo, tá foda.

E vou botar Fábio Júnior cantando "Pai" e pronto, que ainda mando neste puleiro

Pai, perdoai-me, eu nunca soube o que dizer

Teve um dia nesta semana que eu me pai - mineiro viúvo de 88 anos, que vive sendo confundido com o paciente do quarto (*) - passamos horas infernais. Foi quando um dos neurocirurgiões que vai me abrir o coco veio aqui e, a meu pedido, que fique claro, descreveu, com riqueza de detalhes, os riscos que corro ao concordar em fazer a cirurgia. Vão de ficar cega do olho direito a não andar mais, considerando, naturalmente, a possibilidade de as duas coisas acontecerem ao mesmo tempo.

Claro que ficamos os dois em choque, nos emocionamos, e o resto do dia não fez mais sentido; no ar, um misto de pavor, tristeza e uma saudade adiantada um do outro. Falamos pouco do quanto nos amamos, mas desconfio de que, se um dia houve, não ficou mais nenhuma dúvida quanto a isso. À noite, demos uma cochilada de mãozinha dada. E, desde então, ele afirma que só sai daqui depois que isso tudo acabar e eu desenvolvi a estranha mania de acordar à noite pra cobrir meu veio, que se desenrola do cobertor lá pelas tantas da madrugada - informação que é, inclusive, nova pra mim.

Começo a desconfiar de que a turma que diz que sou uma mulher "de sorte" porque descobri os dois aneurismas antes que eles estourassem tem lá sua razão.

(*) É sério. Sem sacanagem, no dia que tive que sair daqui pra fazer o exame em Jacarepaguá, por muito pouco o cara da ambulância não amarrou meu pai na maca.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Aviso aos assinantes

Meu povo querido que assinou o poster da Mafalda com o Obama, vou dar um jeito de mandar e-mail procês tudo, agradecendo o carinho imenso. Só não tento descobrir vossos endereços agora, em pleno horário de fechamento lá no jornal, porque, se o fizer, não vou precisar de aneurisma pra partir desta pra melhor.

Por ora, um beijo enorme para cada um de vocês.

P.S.: Tinha postado uma foto minha aqui, com um presente sensacional que ganhei hoje durante a visita dos colega tudo - era um presente roliço, róseo, com duas mãos com cinco dedos cada e que vibra, pra me relaxar... Mas me achei gorda e descabelada demais, deprimi e deletei. E pronto.

E eu posso com isso?

Momento não-tem-preço hoje aqui no Baixo Olaria:

Ó só a ilustração do cartaz que uns pessoal querido do jornal (já falei aqui que sou jornalista? não lembro mais) fez e trouxe pra mim hoje. Veio cheio de recadinhos carinhosos da galera que não veio, que só não me levaram às lágrimas ainda porque acho que, se chorar a emoção que cada letrinha do presente provocou, periga eu desidratar e algum palhaço aqui me enfiar soro na veia pela 237ª vez nesses QUINZE dias internada. Agora, por exemplo, estou esperando que o moço do plano de saúde autorize o moço do hospital a me cortar o coco pra debelar dois aneurismas cerebrais, entre eles, um "binladenzinho", que achou de se esconder num ossinho da minha fuça, qual fora bunker no Paquistão, etc, etc, etc.

Isso não me sai da cabeça

Acho que sonhei com essa música do John Lennon ("Beautiful Boy") hoje. Tem uma hora que fala assim: "Life's what happens to you, while you're busy making other plans." ("A vida é o que te acontece, enquanto você está ocupado fazendo outros planos.")

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não sei quanto a vocês, mas EU FUI...

...de ambulância do Rock in Rio fazer um exame pré-operatório em Jacarepaguá.



Sem perder o gramur, naturalmente. Especial atenção ao esmalte, que ainda resiste.



A verdade é que a única coisa que me ocorreu durante os 30 minutos de viagem entre o hospital, em Olaria, e a clínica do exame, em Jacarepaguá, foi a imensa quantidade de filmes que já vi com cenas em que a porta da ambulância se abre, e o raio da maca sai rua abaixo com alguma anta amarrada à tal (como esta humilde escritora) gritando, histérica, em close.

A obsessão só descolou do meu cérebro bichado quando me lembrei que já tinha andado de ambulância uma outra vez na vida: em 2004, em Praga, com o pé torcido, inchadaço, com dois tchecos tentando preencher a ficha da paciente em questão sem falar uma única palavra em inglês. Mas isso é, como sabemos, outra história.

Ah, sim, nos dois casos, os tarados dos motoristas ligaram a sirene, e eu tive, nas duas ocasiões, a certeza absoluta de que eu iria virar o defunto "morto ao chegar" em pouquíssimos minutos.

P.S.: Léo, eu sei que a luz do flash do escroto do meu BlackBerry estourou na minha mão, tá? Me poupe.

Ah, sim, bom dia! Fiquem aí com Francis Albert: "That's life... And it's funny as it may seem..."

Suíte 319, dia 14. Vou passear em Jacarepaguá. De ambulância. Ê!



A verdade é que a plaquinha "Dieta Zero" pendurada na porta da suíte 319 pela enfermeira amiga significa que estou em jejum e não posso tomar nem água, tudo por conta de mais um exame pré-operatório que farei fora do hospital: chama Angio TC.

Sabe quando o pedreiro fica interrogando a gente antes de quebrar a parede pra saber se passa algum cano onde ele vai fazer o buraco? Pois é. A tal da Angio TC é mais ou menos pros moços que vão me furar o coco - são três - não provocarem nenhum vazamento, digamos, desagradável. E vamu que vamu.

Fui.

P.S.: E repito aqui o que diz o meu cartazinho da porta, que não consigo fotografar direito de jeito nenhum, mas já virou sucesso de público e crítica aqui no andar: "Abandonai todo o pessimismo vós que aqui entrais. E num perguntai, por caridade, por quem os sinos dobram. Vai que... (Dante Alighieri, John Donne e Rozane Monteiro)"

Teste de fotogenia


Na boa, a ideia de raspar o coco todo logo e adotar um visual cool por um tempinho começa a virar quase um projeto. Tô com medo de mim.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Reflexões sobre a vida pra cá, medo de morrer pra lá, a verdade absoluta dos fatos é que...

.. tá me dando uma vontade imensa de pular de asa delta, fazer uma tatuagem enorme, raspar a cabeça toda - nem vou precisar, a cirurgia só vai atingir um pedaço pequeno do coco - e agarrar, na cara dura, um gataço sensacional que dá pinta aqui pelo hospital.

Também tá me dando uma gana de fazer uma lista de pessoas queridas pra quem eu gostaria de mandar cartas à mão dizendo o quanto as amo e como fui feliz por ter cruzado com elas nos meus 45 anos por cá neste planeta estranho.

Mas devo admitir que a vontade que está tomando proporções incontroláveis é a de listar babaca por babaca que me atazanou nesses 45 anos sobre a terra e mandar e-mails curtinhos dizendo, assim, o quanto eu os acho... babacas.

Posso?

Ou vocês diriam que é prematuro?

Vai que eu não morro, né?

Tá bão. Passou.

Tava aqui pensando

Quando soube que tenho dois aneurismas no cérebro, pensei imediatamente: "Caralho, eu posso morrer a qualquer momento". Aí, fiz o que qualquer ser humano normal faria: me acabei de chorar e tive a certeza absoluta de que sou uma desgraçada.

Passado o susto inicial, prestes a ter uma junta médica mexendo nos meus miolos, me ocorreu o patético-elocubrativo-paradoxal de tudo isso: na boa, quantas pessoas que a gente conhece sabem exatamente quando vão morrer?

Deu vontade de ouvir e pronto. Cantem comigo: "Dizem que guardam um bom lugar pra mim no céu logo que eu for pro beleléu..."

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Nascemos sabendo que a esperança é a última que morre

Não sei quanto a vocês, mas a vida me ensinou que a paciência é a primeira.

Alguém aí sabe como postar a janelinha de um clipe do YouTube aqui no blog ao invés de colocar só o link? Eu sabia fazer isso, mas parece que mudaram o procedimento, e eu nunca mais consegui postar algo além do link, o que dá um trabalho danado pros meus leitores, uma gente que mora no meu coração.

Suíte 319, dia 13: certa melhora de humor, depois de entubar, de vez, minha presença diante do inexorável. Um aviso aos visitantes, pois:



Fiz de tudo pra melhorar a qualidade da foto tirada do meu BlackBerry veio de guerra, mas não consegui e já perdi a paciência, naturalmente. O que tá escrito no aviso aos visitantes é: "Abandonai todo o pessimismo vós que aqui entrais. E num perguntai por quem os sinos dobram. Vai que..."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Relevem aí a falta de humor, mas é exatamente assim que me sinto hoje:

E esse clipe que achei por acaso me pareceu irônico demais. Cantem comigo:

"Socorro, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha..."

Suíte 319 (pois é, mudou), dia 12: história sem fim

Meus queridos, só agora voltei a ter um laptop no quarto novo, depois de sair da CTI. Nem vou poder teclar muito porque escrever aqui com essa coisa do soro na mão direita não tem nenhuma graça.

Vou logo à informação que interessa: o procedimento com o cateter não deu certo. À certa altura, minha vida ficou em risco, e o médico achou melhor não insistir. Portanto, agora, a indicação é, mesmo, cirúrgica. Ou seja, em linguagem simples, objetiva, jornalística e direta: vão me abrir o coco. Talvez na sexta-feira. Aviso quando marcarem.

Juro que dou mais notícias quando o humor der uma melhorada. Por enquanto, tô algo entre puta e triste, além de apavorada, naturalmente.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"A senhora tem certeza de que não está de alta?"

Diálogo surreal com a nutricionista do hospital ainda há pouco:

- Por favor, eu, que estou internada, e meu pai, que está como meu acompanhante, gostaríamos de saber se podemos tomar um café.

- A senhora está em que quarto?

- 327.

- Mas a senhora está de alta.

- Não estou, não. Estou internada, há nove dias, à espera de um procedimento para tratar de dois aneurismas cerebrais.

- A senhora tem certeza?

Na boa, dei as costas, e, milagre dos milagres, nem cogitei bater boca.

Agora, vai: babado do cateter está marcado para amanhã, sábado, ao meio-dia

Torcida agora é pra que o cateter abata os dois aneurismas, incluindo o "binladenzinho", que é micro e tá escondido num cantinho do meu coco.

Certo cagaço.

Suíte 327, dia 9: à beira de um ataque de nervos

O último flash dá conta da possibilidade de a farra do cateter só rolar amanhã de manhã. Num tô crendo. Já atualizo vocês. O médico ficou de voltar daqui a pouco com uma resposta "certa". Oremos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Acende uma vela aí, meu povo!

É possível que o procedimeto com o cateter - que pode detonar os dois aneurismas - seja autorizado até sábado de manhã. Aí, se tudo der certo, posso ter alta no início da semana que vem.

A má notícia possível é que o cateter pode não conseguir alcançar um dos aneurismas - um "binladenzinho" que tá escondido numa gruta qualquer dos meus miolos. Se for esse o caso, só abrindo o coco. Ai.

Mas, aí, como um gaiato já tá espalhando lá no jornal, periga os médicos interromperem a cirurgia no meio para um anúncio oficial à imprensa:

- Está comprovado: não tem nada no cérebro da jornalista Rozane Monteiro.

Na boa, precisava?

Abandonai todo o preconceito, vós que aqui entrais

Nada como o ócio, ainda que forçado. Não vi quando foi ao ar, lembrei agora e fui no YouTube. Façam um favor a si mesmos e vejam a entrevista do Roberto Carlos no Jô. Sensacional, de chorar de rir. Se faltar tempo e paciência, vão direto na história do sapo atropelado pelo motorista do Rei em Miami, que quase levou a troupe pra cadeia (começa em 00:47:22).

http://www.youtube.com/watch?v=S9aW6Gb9OWA

Socorro!

Tô vendo Ana Maria Braga!

Suíte 327, dia 8. O Ministério dos Bons Costumes adverte: a autora tá furiosa, e este post conterá palavras de baixo calão

Caralho! Tá foda! Puta que o pariu: não aguento mais ficar em cativeiro!

Desabafei. Gradicida.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Hoje, pensei em ter religião... Hoje, o inimigo veio me espreitar... Mas eu não quebro, não, porque sou macio..."

Deu uma vontade da porra de ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=9IfFq_461tY

As flores lindas de um casal querido e o humor do meu pai mineiro



Jornalista descolada, metida a saber de tudo, admito que tive que interrogar muito meu médico para saber exatamente o que era um aneurisma cerebral e para ter a exata noção do risco que ainda corro. Tudo isso para eu mesma aprender a lidar com a situação, claro, e para poder explicar o babado direitinho para meu pai, mineiro de seus 88 anos.

Com as novidades dos últimos dias - o que era um passou a ser dois aneurismas -, eu e meu pai ainda estamos um tanto atordoados, é fato. Mas também é fato que é comum a ambos, cada um a seu modo, a capacidade de não perder a piada.

- Pai, olha que lindas as flores que chegaram! São de um casal de amigos queridos!

- Ih, minha filha, o negócio tá ficando mais feio! Já tão até te mandando flor!

"Foi mal aí, doutor"

Quando eu tinha lá pelos meus nove anos e estava prestes a fazer a primeira comunhão, chegou o dia de fazer a primeira confissão. Aí, eu, que já achava o conceito de pecado bastante relativo, fiquei completamente confusa.

Como eu não era a única criança a começar a desenvolver um horror atávico à confissão, a freira da escola deu exemplos de pecados, pra gente poder confessar: "Pode ser uma coisa como brigar com o irmãozinho ou com a irmãzinha ou fazer pirraça com a mamãe." Eu, que era filha única e, por algum milagre, não considerava que tivesse tido alguma conduta condenável com minha mãe naquela semana, inventei um pecado. Simples assim. Nem lembro mais qual foi. Mas tenho a certeza absoluta de que inventei, vírgula por vírgula, o primeiro pecado que confessei a um homem que não conhecia.

Lembrei disso agora, que realizei o sonho dos aneurismas próprios, sem sintomas. Internada há uma semana aqui, tenho ficado sem graça a cada vez que o médico vem me perguntar se está tudo bem e eu respondo que... "está sim, doutor".

Nem pensei em inventar sintoma, que, como sabemos, já tenho problemas demais. Mas, olha que coisa, ontem à noite, fui dormir com dor de cabeça e certo desconforto nos olhos. Depois de ler horas parte da minha pilha de livros e revistas. Com uns óculos que acho que preciso trocar. Sob uma luz fraquinha, da lâmpada que fica em cima da minha cama.

Diagnóstico óbvio hoje de manhã:

- Fica tranquila, é só o cansaço da leitura.

- Ah, tá. Foi mal aí, doutor.

Suíte 327, Dia 7

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, num guento mais!!!!!!!!!!!!

Já tô trocando todos os meus cachinhos por uma definição desse drama barato. Argh!

Mas, por falar em "barato", vamu de música, que tô sem paciência pra contar causo hoje. Tomem aí o som que acaba de me ocorrer:

http://www.youtube.com/watch?v=T_seMS5GHe4&feature=related

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ok, humor ligeiramente melhor

Depois de passar boa parte da tarde com uma boa amiga e uma prima querida falando bobagem - da vida sexual do George Clooney aos melhores modelos de bandanas pro caso de eu ficar careca -, registra-se acentuada melhora do humor desta paciente, trancafiada aqui na suíte 327.

E, ainda que não seja 100% garantida, a possibilidade de na quinta-feira à noite eu estar livre desse pesadelo começa a me animar um bocadinho.

Mas sabem o que realmente me emputece?

Saber que essa ziquizira cerebral toda vem à tona justamente no momento em que eu resolvo parar de fumar e de beber, fazer uma dieta saudável, me exercitar, fazer RPG, shiatsu e os caralho.

Na boa, se isso não é ironia do destino, eu já não entendo mais nada de enredo de filme. Falar em cinema, tô me sentindo igual a índio em filme americano: só entra pra tomar tiro na fuça no final.

Ok, pode parecer que tô com pena de mim mesma. Surpresa: é exatamente é isso que tá rolando. E pronto. E fui.

Pra que tornar minha existência fácil, se minha passagem pela terra pode ser um tumulto só, certo?

Não vou nem fazer muita graça porque ainda tô me acostumando com o resultado do exame que, finalmente, consegui fazer ontem. Chama-se arteriografia, que, basicamente, enche o cérebro de contraste pra catar o que não está no lugar certo. Diagnóstico: o aneurisma não é um, são dois; e a técnica que usa cateter pode não conseguir alcançar um deles, portanto, pode ser que seja preciso abrir meu coco.

Simples assim. Sem firula. Sem graça.

O que vai acontecer agora é que ainda esta semana, quinta ou sexta, o médico vai tentar atacar os "gêmeos" com cateter e ver o que acontece.

É isso. Resumindo, é isso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Na boa

Se algum outro ser humano me perguntar aqui se eu tô "de alta", eu vou enfiar a mão na fuça. Só-por-que eu tô com um raio duma bolha no cérebro eu não posso tomar banho, me perfumar e me enfiar num vestido legal enquanto não autorizam o "procedimento" que vai me enfiar um cateter e/ou um bisturi no coco? Que coisa!

Alguém me abraça!

Cara, hoje é meu quinto dia de internação, e o plano de saúde ainda não se dignou a entender que eu preciso fazer aquele raio daquele exame pra começar a fazer planos para o futuro, nem que, a essa altura, o futuro a que me refiro seja só a cirurgia de amanhã.

Muito mau humor.

domingo, 25 de setembro de 2011

Contagem regressiva

Tá tudo muito lindo, muito otimista, muito blasé. Mas a verdade é que, em menos de 24 horas, depois de fazer um exame que o plano tá enrolando pra autorizar, eu já deverei saber o tamanho do estrago do tal no meu cérebro e que "procedimento" o doutor vai adotar: me enfiar um cateter pelas veinhas até a cuca ou abrir meu coco.

Em duas palavras: tô apavorada.

Pronto, falei.

Fui.

A metáfora da vez

Nem me sinto já com a morte com a mãozinha no meu ombro, não. A impressão que tenho é que estava muito bem sentadinha num bistrô qualquer, lendo um bom livro, quando, de repente, levantei os olhos e vi a Própria me erguendo um brinde, de longe, de uma mesa próxima, só pra me lembrar que tá na área.

Contei que trouxe "Nosso Lar" pra ler aqui?

A verdade é que eu já estava lendo. Aí, na hora de fazer a mochila pra vir pro hospital, achei que fazia o maior sentido do mundo trazer o livro junto.

Claro que, dadas as circunstâncias, mal abri o livro até agora. Na boa, já internada, me ocorreu que pensar em toda a minha vida diante da morte - como, de certa forma, ocorre ao personagem central do livro - não seria, nem de longe, uma boa ideia. Amarelei e pronto.

Portanto, a pilha de coisas pra ler e passar o tempo na cabeceira do leito de Rozaninha está por ora constituída de exemplares de Claudia, Marie Claire, palavras cruzadas e um romance policial, todos providenciados pela minha comadre querida.

Aliás, não todo lendo nem horóscopo, pra não dar intimidade com as coisas dos céus em geral. Cumpra-se.

sábado, 24 de setembro de 2011

Rivotril já na fuça, me voy, que daqui a pouco estarei dormindo como um anjo

Falei "dormindo como um anjo"? É... bem... digamos que daqui a pouco estarei "dormindo como um bebê".

Pra que dar ideia pra Deus, a essa altura, né?

Rozane Monteiro, uma quarentona de sorte

Algumas coisas eu já aprendi desde o dia 20 de setembro:

1) Se você descobre um aneurisma cerebral antes de ele estourar, você é considerada uma pessoa "de sorte". E não adianta, por nada deste mundo, você querer gritar para o planeta o quanto você está se sentindo uma desgraçada, abandonada por Deus, com vontade de chorar até desidratar. Você sempre será, para os amigos e para os médicos, uma pessoa "de sorte".

2) Planos de saúde consideram pacientes com aneurisma cerebral que ainda não estouraram seres com uma saúde de ferro. Eu, por exemplo, orientada por um neurologista a me internar imediatamente para me submeter a um procedimento cirúrgico que vai me livrar do tal, passei, na quinta-feira, nove horas sentada numa cadeira da emergência do hospital em que estou agora à espera da autorização da internação. Ao meu lado, claro, um monte de outros pacientes que apresentavam todos os sintomas do mundo, que foram atendidos e internados na minha frente. E eu, que não emiti um gemido, fui ficando, fui ficando... Quem manda eu ser uma mulher de sorte, né?

3) Internada, finalmente, desde quinta-feira à noite, agora, aguardo o plano de saúde autorizar um exame megapreciso que vai mostrar todos os detalhes do aneurisma para que o neurologista decida o procedimento que vai usar para encerrar essa minha, digamos, maré de sorte: cateter ou abrir o coco. Ia ser na sexta, talvez fosse hoje, mas deverá ser, mesmo, na segunda, se tudo der certo.

4) Sem sintoma nenhum, com essa cara de saudável - fiquei três meses sem fumar e sem beber, lembram? -, parece que eu tô aqui, no quarto 327, tomando medicação no soro na pata, só de sacanagem.

4.1) - A senhora está de alta? (enfermeira me olhando depois de eu tomar banho, enfiada no meu vestido fashion, que ainda não tenho motivo pra usar aquele avental ridículo)
- Não, eu tô esperando fazer um exame pra operar um aneurisma. É que não posso perder o charme, né?

4.2) - Moça, o plano cobre acompanhante?
- A senhora está acompanhando que paciente?
- Não, eu é que sou a paciente. É que queria que meu pai dormisse aqui...
- Ah, desculpe. É que é pela idade: o plano só cobre acompanhante pra criança e pra maior de 60 anos.
- Então, é melhor eu internar meu pai e eu ficar de acompanhante, né?...

Claro que não colou, e meu pai acabou voltando pra minha casa. No fim das contas, decidimos que o transtorno e as despesas pra que alguém durma aqui comigo vão ficar pra quando o quadro aqui começar a perder a graça - depois do tal do exame horroroso e da cirurgia em si.

"Fica tranquila, pode não ser nada". "Desculpe, mas algo que 'não é nada' não tem a medida (5 mm) expressa em um laudo de ressonância de crânio, ok?"

E foi assim que o inferno começou. Eram lá por volta das 11h do dia 20 de setembro - dois dias depois de eu completar 45 anos, aliás -, quando abri o resultado de uma ressonância de crânio pedida por um otorrino que fui ver dias antes.

Estava lá: "Imagem nodular (...) medindo cerca de 5mm compatível com dilatação vascular (...)"

Por que um otorrino pediu um exame assim? Porque eu estava desesperada com um zumbido na cabeça que foi aumentando mês a mês, além de umas falhas de memória que começavam a me preocupar, por isso, achei que procurar, inicialmente, um otorrino fazia sentido. Pois o homem desconfiou e pediu o exame que acabou detectando o que agora eu sei chamar-se aneurisma cerebral. O resultado eu abri no mesmo laboratório onde, naquela manhã, eu iria fazer um teste de esforço para ver se eu estava, finalmente, liberada para iniciar a hidroginástica. (*)

Já juntando lé com cré, antes de fazer o teste de esforço, pedi, por favor, que a médica que o aplicaria me ajudasse a compreender o que estava escrito - eu sentia cheiro de pepino dos bons. Foi essa fofa que, toda doce, tentou me fazer acreditar que poderia não ser nada demais. Adorei o carinho, claro. Mas era, sim, algo demais.

(*) Passados quase três meses sem fumar e sem beber por conta de um enfisema detectado em junho, caminhando quase todos os dias, achei que já dava pra encarar um teste de esforço pra ver se estava liberada. Mas não vamos focar num enfisemazinho inicial a essa altura da vida, certo?