Desde ontem - quando voltei pra casa -, tenho pensado muito em quem terá sido o ser humano vingativo ou o chato do querubim que me rogou a praga de ter que encarar uma cirurgia de "clipagem de três aneurismas", que é o nome todo do inferno que me tirou do gramado aos 45 do primeiro tempo.
Que nunca fui flor que se cheirasse, não é segredo pra quem me conhece. E esse blog, acho, dá uma ideia pra quem não me conhece. Ainda assim, duvido que alguém - humano ou o tal do anjo torto - tenha rogado, com todas as letras, praga tão específica: "Tomara que essa vaca descubra que tem três aneurismas e tenha que abrir a cabeça, tomar 17 pontos, ficar quase cega do olho direito e ainda ter uma complicação que vai lhe criar um galo gigante na testa e fazer a cirurgia em si parecer retirada de verruga."
Não, não pode caber tanto ódio e tanta criatividade num único ser.
Mas, se a ideia era me enfiar a minha própria arrogância em algum orifício que esteja a mais de 20cm do meu crânio - um pouco de clemência, por caridade! - e me fazer inverter a prosa aos 45, acertou na mosca o praguejador.
Eu, hoje, de volta a minha casa, com a cabeça costurada e uma tontura insana, não posso guardar a roupa passada lá em cima, no armário; não posso ficar horas no celular com os amigos; não posso blogar pelo tempo que desejo; não posso me sacudir toda, enquanto escrevo, ao som do CD novo do Chico - ainda é novo, né? Tudo isso me dói a cabeça. Também não poderia consertar o pinguim da geladeira, que a Zefa sempre deixa torto. Mas - foi mal aí, doutor - olhar praquele pinguim torto tava doendo mais do que doeu subir no banco e consertar.
Eu, hoje, sou a moça que anda devagar no vuco-vuco do Largo do Machado pra ir do meu prédio até a farmácia, aqui em frente, comprar todos os remédios - daquelas que quase me matam de irritação quando corro atrasada pra qualquer lugar, atrasada que sempre estou. Sou também a que não entende direito, de primeira, o que o moço da farmácia falou - daquelas que irritam qualquer ser humano normal que está imediatamente atrás.
E sou aquela que anda de lenço fashion pra disfarçar a carequice discreta, uns 2cm a partir da testa, e os tais 17 pontos, que, se eu fosse punk, juro que iria virar uma imensa tatoo de uma lacraia roxa. É engraçado como eu sinto que posso ler a mente de cada uma das pessoas que me conhecem aqui no bairro e me viram hoje: "Ih, coitada! Será que é câncer?". Deu vontade de ir logo me explicando: "Não é câncer, não, meu amor, foram só três aneurismas". Mas, sei lá, as pessoas sabem tão pouco sobre aneurisma, que era capaz de acharem que eu estava só inventando uma história "bacana" pra disfarçar.
Enfim, eu hoje, aos 45, sou a moça que, por enquanto, só caminha amparada no braço do meu pai querido, quase 88 anos de pura travessura.
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