segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Reunião no Céu

Sempre que me vejo diante de alguma situação que me tira totalmente - mesmo - do prumo, imagino que minha ficha anda muito suja ou, no mínimo, tem algum anjo da guarda de muito mau humor lá em riba. Aí, fico imaginando como deve ter sido a reunião pra me sacanear desta vez.

Anjo 1 - Vem cá, a gente já não tinha combinado que ia dar um tempo e parar de infernizar a vida da nossa amiga?

Anjo 2 - Já falei que não sou amigo de gente. E olha essa boca suja. Aqui, ninguém "inferniza" a vida de ninguém. Isso é verbo da concorrência.

Anjo 1 - Tá bom, ô, santo, você sabe muito bem de quem eu tô falando. A gente não tinha combinado... Aliás, o Chefe já não tinha mandado a gente deixar a mulher em paz depois daquela parada do canalha que deu uma volta nela e tal?

Anjo 2 - Eu sei, eu sei... Mas, ao que parece, você se esqueceu de que, nesse meio tempo, ela já trabalhou pra político e pra publicitário E voltou a trabalhar em jornal. Precisava de um novo susto, sim.

Anjo 1 - Tudo bem, concordo com o novo susto. Mas três aneurismas cerebrais não é um pouco demais, não?

Anjo 2 - Ela já não sobreviveu?

Anjo 1 - Tudo bem, mas tá meio caolha e triste de marré-deci.

Anjo 2 - Triste porque é fresca. Devia era ficar feliz de ter saído viva do meu sustinho.

Anjo 1 - "Sustinho"? Não podia ser, pelo menos, um aneurisma só? Do tipo que aquela coisa com o cateter resolve? Não, aí não tem graça, né? Tinha que mandar logo três pela fuça da pobre e ainda abrir a cabeça da mulher igual a um coco.

Anjo 2 - Quem trabalhou pra político e pra publicitário e voltou pra jornal foi ela. Agora guenta.

Toca o telefone vermelho.

Anjo 1 - Atende aí se tu é macho.

Anjo 2 - Anjo não tem sexo.

Anjo 1 - Nem culhão, pelo visto, né?

Telefone insiste.

Anjo 1 - Saco... Alô... Bom dia, Chefe... O Anjo 2? Tá, sim... Tá aqui na minha frente...

Anjo 2 - S...e...n...h...o...r?... Mas eu estava discutindo justamente o caso desta mulher aqui com o Anjo 1...

Anjo 1 - Quer me tirar fora dessa, palhaço?

Anjo 2 - ... Aí, eu lembrei que, depois da nossa última reunião, ela trabalhou pra político e pra publicitário e voltou pra jornal. Precisava, portanto, de um sustinho... O quê... Senhor?... Ah, o Senhor não concorda?... O político é mais ou menos do bem, e o publicitário ela chutou assim que viu que era um picareta? É verdade, sim, Senhor... Mas e o jornal?... Ah, o jornal é a vocação da moça... Mas Senhor...

Anjo 1 - Tu não cansa de pagar mico, não?

Anjo 2 - Agora, a gente tem que compensar a moça, é isso, Senhor?... Sim, Senhor... Entendi... Mas, como, Senhor?... Sim, Senhor...

Anjo 1 - Desculpe, mas tenho que perguntar: o que, assim, o Chefe, sugeriu que a gente fizesse pra compensar a louca?

Anjo 2 - Nada. Ele falou só: "Dá teu jeito".

Anjo 1 - Aun. Tadinho. Boa sorte.

Anjo 2 - Como assim? Tu não vai me ajudar?

Anjo 1 - Claro que vou. Com informação: o Sinatra já morreu; o Chico Buarque já encontrou a nova mulher da vida dele; e o George Clooney parece que é gay, mesmo. Ah, e aquele que a louca agora diz que ama não dá nenhuma bola pra ela - é só admiração e carinho mesmo.

Anjo 2 - Só admiração e carinho mesmo?

Anjo 1 - Juro.

Anjo 2 - Jura por quem?

Anjo 1 - Adivinha.

sábado, 29 de outubro de 2011

Quantos aí sabem que estamos a pouquíssimos dias do Halloween?

Eu, por exemplo, sei. Porque estou antenadíssima com as festas que nosso país importou de nações ao Norte do Equador? Claro que não. Foi pura associação de ideias: por que outro motivo a escola do lado do meu prédio estaria tocando, com certa frequência, a tarde inteira, aos berros, pruma turba ignara fantasiada de monstros, a versão clássica de "Thriller", do veio Mike?

Na boa, não consigo nem tentar descrever o que sinto com esses decibéis todos sendo processados numa cabeça que tem 17 pontos e uma bolha na testa apertada com uma faixa de tecido, até o vazamento na meninge estancar, como me mandou fazer meu bom neuro.

E, como diria o zumbi duas-caras da coreografia, já que não posso vencê-los...



(para quem não tiver muita paciência, a música, mesmo, começa em 4:40)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tá tudo muito lindo, tá tudo muito bão: mas o tal do "repouso absoluto" é de enlouquecer

Na boa, foi mal aí, mas tá impossível manter o bom humor hoje aqui no cafofo, sem poder caminhar como gostaria lá embaixo, com os movimentos da cabeça limitados pra dor não me derrubar, mais o olho direito enxergando muito mal, o que me tira totalmente o equilíbrio.

Ah, sim, isso tudo com uma diarreia insana causada, talvez, pela imensa quantidade de remédios que tô tomando ao mesmo tempo, sei lá.

Argh. É o famoso "tá foda", galera.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Minha mais nova obsessão: raspo o cabelo todo de uma vez ou deixo só a faixa desmatada pelos doutores?

O que acho é que raspando tudo de uma vez logo, o cabelo nascerá uniforme. Por outro lado, também acho que ficar carequinha, sem precisar realmente, é maluquice total.

Noves fora nada, fiquem aí com o anúncio da Natura, que não sai da minha cabeça (com trocadilho, por favor) neste momento de dilema:

Não falei antes porque estava em fase de negação. Mas, agora, que tô aos poucos fazendo as pazes com tudo o que não é avental verde, a realidade grita

Eu tive a capacidade de engordar na temporada no hospital.

Ridículo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Eu, hoje, sou a moça que anda devagar no vuco-vuco do Largo do Machado e quase mata os apressados de ódio

Desde ontem - quando voltei pra casa -, tenho pensado muito em quem terá sido o ser humano vingativo ou o chato do querubim que me rogou a praga de ter que encarar uma cirurgia de "clipagem de três aneurismas", que é o nome todo do inferno que me tirou do gramado aos 45 do primeiro tempo.

Que nunca fui flor que se cheirasse, não é segredo pra quem me conhece. E esse blog, acho, dá uma ideia pra quem não me conhece. Ainda assim, duvido que alguém - humano ou o tal do anjo torto - tenha rogado, com todas as letras, praga tão específica: "Tomara que essa vaca descubra que tem três aneurismas e tenha que abrir a cabeça, tomar 17 pontos, ficar quase cega do olho direito e ainda ter uma complicação que vai lhe criar um galo gigante na testa e fazer a cirurgia em si parecer retirada de verruga."

Não, não pode caber tanto ódio e tanta criatividade num único ser.

Mas, se a ideia era me enfiar a minha própria arrogância em algum orifício que esteja a mais de 20cm do meu crânio - um pouco de clemência, por caridade! - e me fazer inverter a prosa aos 45, acertou na mosca o praguejador.

Eu, hoje, de volta a minha casa, com a cabeça costurada e uma tontura insana, não posso guardar a roupa passada lá em cima, no armário; não posso ficar horas no celular com os amigos; não posso blogar pelo tempo que desejo; não posso me sacudir toda, enquanto escrevo, ao som do CD novo do Chico - ainda é novo, né? Tudo isso me dói a cabeça. Também não poderia consertar o pinguim da geladeira, que a Zefa sempre deixa torto. Mas - foi mal aí, doutor - olhar praquele pinguim torto tava doendo mais do que doeu subir no banco e consertar.

Eu, hoje, sou a moça que anda devagar no vuco-vuco do Largo do Machado pra ir do meu prédio até a farmácia, aqui em frente, comprar todos os remédios - daquelas que quase me matam de irritação quando corro atrasada pra qualquer lugar, atrasada que sempre estou. Sou também a que não entende direito, de primeira, o que o moço da farmácia falou - daquelas que irritam qualquer ser humano normal que está imediatamente atrás.

E sou aquela que anda de lenço fashion pra disfarçar a carequice discreta, uns 2cm a partir da testa, e os tais 17 pontos, que, se eu fosse punk, juro que iria virar uma imensa tatoo de uma lacraia roxa. É engraçado como eu sinto que posso ler a mente de cada uma das pessoas que me conhecem aqui no bairro e me viram hoje: "Ih, coitada! Será que é câncer?". Deu vontade de ir logo me explicando: "Não é câncer, não, meu amor, foram só três aneurismas". Mas, sei lá, as pessoas sabem tão pouco sobre aneurisma, que era capaz de acharem que eu estava só inventando uma história "bacana" pra disfarçar.

Enfim, eu hoje, aos 45, sou a moça que, por enquanto, só caminha amparada no braço do meu pai querido, quase 88 anos de pura travessura.

Honey, I'm home!!!! Mermo!!!!!! Tô 'de altos' desde ontem à noite!!!!

Tá tudo tão confuso ainda, que nem sei direito o que escrever. Parece que fiquei fora do País quase 40 dias. Parece que nunca morei aqui. Parece que morri e reencarnei. Sei lá mais o que parece.

A verdade é que cheguei em casa ontem, no fim do dia, tão apatetada, com dor ainda, que a primeira coisa que fiz foi comprar todos os remédios, tomar o que devia e cair na cama, pra dormir igual a uma pedra. Agora, espero o almoço que Penha está fazendo - Penha é o anjo da guarda que cuidou de minha mãe, morta em 2009, e que agora cuida do meu pai, que também está aqui no cafofo.

É isso. Resumindo, é isso. Depois, eu volto pra contar mais. ´

Inté.

domingo, 23 de outubro de 2011

Baseado em fatos reais

Sabe aqueles filmes patéticos, "baseados em fatos reais", quase sempre contando histórias de superação humana, envolvendo algum americano fo-da que descobriu o valor da vida, mantendo sorriso na fuça mesmo diante de algum diagnóstico horroroso que vai deixá-lo careca, quase cego e, provavelmente, paralítico?

Pois é, depois de dias preocupada com o chifre que me apareceu na testa por conta de um "vazamento" pós-operatório, percebi que consigo quase ler do olho direito, que saiu completamente cego da cirurgia. Aí, depois disso, lembrei aqui hoje que outro risco que eu corria era o de perder os movimentos do lado esquerdo do corpo, o que me pregaria a uma cadeira de rodas talvez pro resto da vida. Por conta disso, lembrei que amarguei algum tempo no CTI até perceber que conseguia mexer pé e mão esquerdos e dias até perceber que podia andar - a ordem era não me deixar sair da maca, o que gerou certa apreensão, antes inimaginável na minha modesta biografia.

Imediatamente penso em todos aqueles que passaram por esses momentos de angústia, por qualquer motivo, e, ao contrário de mim, tiveram que entubar o destino e se reinventar diante das novas limitações.

Francamente, não sei se eu teria força de continuar vivendo com um riso na fuça se meu destino fosse outro.

É pra todos eles que dedico este blog e o que mais vier desse susto que a vida resolveu me pregar.

sábado, 22 de outubro de 2011

Tava aqui pensando

Considerando que é ÓBVIO que estou pagando TODOS os meus pecados, concluo, naturalmente, que, quando sair daqui, posso começar a pecar de novo, certo?

Alguma sugestão de qual poderia ser meu primeiro pecado?

Por que não pulo da janela?

Porque estou no terceiro andar, tem uma laje logo abaixo da janela, e o máximo que conseguiria seria uma transferência pra emergência da ortopedia.

Sim, é o que parece: hoje é meu 31º dia de internação

É isso.

Nem sei mais o que dizer.

Há uma remotíssima chance de alta ainda no fim de semana, mas prefiro só afirmar algo quanto a isso quando estiver de volta ao meu Largo do Machado querido.

Ai.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Como eu mesma já disse aqui: a esperança é a última que morre

A paciência é a primeira.

Quero ir embora deste lugar!!!!!!!!!!!! Tipo agora!!!!!!!!!!!!!!!

Noticiário rápido da cela 319, às vésperas do 31º dia de pena em Olaria

Como diria o outro: ganha contornos dramáticos a permanência na cela 319. Acho que não saio nem no fim de semana. "Complicaçãozinha" no pós-operatório tá sendo contraatacada com remédio, cujo efeito ainda está em "observação".

É isso. Resumindo, é isso.

Me fui.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Blogueira de folga forçada

Meu povo, vou dar uma sumida de uns dois ou três dias.

Uma coisa básica: rola uma "complicaçãozinha" - um bolhão de água na testa -, que piora com a minha conhecida incapacidade de ficar quieta na cama e calada. Portanto, até o fim da semana, que é quando deverei ter alta, vou ficar "de altos" daqui, tá?

Vou, no máximo, tentar blogar algum comentário do BlackBerry veio de guerra, que ninguém me tira da cabeceira.

Inté.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Nada, não. Só a conta da anestesia.

Uma vida (a minha, por acaso) vale mais que isso. Eu sei, eu sei.

Já tomei bronca de uma amiga só porque tô babando de ódio do valor que vou ter que pagar e das lágrimas que rolarão até o plano reembolsar um valor que há de variar entre zero e o real.

Fui.

Último boletim médico sobre Dona Maria Rozane, da cela 319

Alta ainda esta semana. Eu até sei que dia seria, mas só acredito quando estiver no meu cafofo, no Largo do Machado.

P.S.: Pena cumprida até agora: 27 dias

"Eu fico com a pureza da resposta das crianças: 'É a vida, é bonita e é bonita. S'imbora, povo'"

Vocês acharam, mesmo, que eu ia sobreviver sem postar companheiro Gonzaga Jr. aqui?

Tolinhos.

"Pai, eu esqueci como é que reza o Pai Nosso"

- Peraí, minha filha. É assim: Pai Nosso, que estais no Céu...

Momento de desespero quando a dor na cabeça chegou a níveis insuportáveis, os remédios não faziam mais efeito, a visão do olho direito não me dava nem uns 20% do cenário, e eu senti o cheiro da morte no ar do quarto do hospital.

Claro que só meu pai querido podia me acudir.

"Esta é a Maria Rozane, leito 20: lúcida, orientada, cooperativa. Fala bastante. Pergunta demais"

Juro que ouvi isso dum enfermeiro, que passava o plantão prum colega, no CTI, onde fiquei por 72 longas horas. O "orientada" é por conta do fato de eu saber meu nome, onde estava e o motivo de estar internada - coisas que os "desorientados" desconhecem. O "cooperativa" é porque eu não arrancava o curativo, nem me recusava a tomar o remédio. O "fala bastante" e o "pergunta demais" são porque... Well, acho que num carecem de explicação, né?

Aposto qualquer dinheiro que, se eles fossem todos fãs de cinema e pudessem cantar e dançar no CTI, só teriam uma única trilha:

Ladies and gentlemen, please welcome "How do you solve a problem like Maria?"... ("Como se resolve um problema como Maria"?..."), de "A Noviça Rebelde", naturalmente.

Honey, I'm home!

Voltei, meu povo! Com uma cicatriz na fuça, muita dor na cabeça ainda, o olho direito meio contundido e uma vontade da porra de viver. Tenho 200 coisas pra contar. Mas vou contando aos pouquinhos, tá. Não tô podendo ainda ficar muito tempo sentada, muito menos forçando a vista no computador.

Sei que a cicatriz vai, em algum momento, deixar de ser a única coisa que aparece no meu rosto, como agora. Já sei que sobrevivi a uma cirurgia maluca e ando sendo vista como um pequeno milagre ambulante aqui - havia o risco de eu não andar mais e de ficar cega do olho direito; mas, por ora, a única sequela é a visão reduzida do mesmo olho, problema que ainda pode retroceder.

Ah, sim, uma novidade: depois que cheguei aqui no hospital, o aneurisma encontrado num exame de rotina "virou" dois - acharam mais um - e, na mesa de operação, encontraram um terceiro. Portanto, é o que parece. Nascida em 18 de setembro, acabo de ganhar outra data da aniversário: 12 de outubro, que foi o dia da cirurgia. Oremos!

Mas uma coisa não me sai da cabeça. Com essa cicatriz na cara (está acima da linha do couro cabeludo, e o cabelo foi raspado por parcos centímetros) e com a informação de que fiquei com aqueles dois pinos perto da orelha enquanto era operada para que o crânio não mexesse de jeito nenhum, só penso numa coisa: tô os corno do Frankenstein - calma, os parafusos foram só na cirurga, isto é só uma piada.

E lembrei, ato contínuo, de uma comédia com o Gene Wilder e o Marty Feldman - "O Jovem Frankenstein" -, que adoro. Boto uma cena aqui que é a versão debochada do que juro que senti nos primeiros minutos depois da operação: 'será que trocaram meu cérebro'?

Na cena, o jovem herdeiro do médico doido (Wilder) acaba de levar um bom dum susto ao "finalizar" seu "projeto" e mas ver que sua criatura era maluca. Aí, ele lembra que mandou o criado (Feldman) ao necrotério (acho) para buscar o cérebro que daria vida ao monstro. Ele desconfia de que algo está muito errado e pergunta se o cérebro era dum gênio, como ele tinha mandado a anta buscar. Claro que não era, e o fofo do criado manda na fuça do cientista perguntador que o cérebro era "de um tal de Ab". Pois "Ab" é o início da palavra inglesa "abnormal", que ele jurava ser o nome de alguém - eu tô com preguiça de ver agora, mas acho que ele acaba derrubando o vidro do cérebro que o Dr. Frankenstein manda buscar e improvisa.

Divirtam-se:

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Agora, eu vou, meu povo. Hasta mañana!

"What will this day be like? I wonder... What will my future be? I wonder..."



Juro que tentei a cena original, mas, a essa altura, nem tenho tempo mais de procurar no YouTube. Fiquem aí com a tal da música que a tal da noviça começa cantando "Como vai ser este dia? Fico pensando... Como vai ser meu futuro? Fico pensando..."

Na boa, cês acharam, mesmo, que iam ficar sem ter que aturar "A Noviça Rebelde" aqui? Olha que nem contei que foi o primeiro filme que vi na minha vida, aos 4 ou 5 anos, e que foi meu pai quem me explicou como é que aquela "poeirinha" saindo do projetor virava gente cantando e dançando na tela, etc, etc, etc.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Mesmo a quem não tem fé a fé costuma acompanhar, pelo sim, pelo não". Ave Gil!

O Plantão do Dodói... informa: a cirurgia passou pras 11 da manhã de amanhã (quarta)

Tudo deve durar, juntando preparação e ida pro CTI, umas oito horas. Mas meu celular vai estar ligado, com algum porta-voz de La Famiglia.

Ok, admito: botar Sinatra cantando "My Way" até me pareceu uma ideia cool, brilhante, mesmo, mas tá acabando comigo agora

Essa parada de "And now the end is near and so I face the final curtain" (*), que são os primeiros versos da canção, tá me dando nos nervos.

(*) "E agora o fim está próximo e, então, eu encaro a última cortina".

Esqueci de dizer que a foto do "post celestial" lá embaixo foi tirada da janela da minha querida cela 319, neste meu 20º dia de internação

E vou me acabar de comer esfiha lá do árabe do Largo do Machado, que meu pai acaba de me trazer, e botar Sinatra cantando "My Way" aqui. Vai que...

Este post celestial é só pra anunciar que a abertura do meu coco já tem dia e hora



Vai ser amanhã, dia de Nossa Senhora Aparecida, às 14h. Tô aceitando de reza forte a tambor.

P.S.: Não, eu não me lembro de ter tido tanto medo em alguma outra ocasião na minha vida.

P.S.1: A confusão que me vai na alma agora, com um genuíno medo de morrer, só perde, acho, pra dor que senti no enterro de minha mãezinha querida, há dois anos.

P.S.2: Será que já dá pra minha veinha me ajudar lá de riba?

Entendi: isso tudo é só um pesadelo, eu sou só uma escritora sonâmbula e vocês, caros leitores, não passam de fruto da minha imaginação, claro

Na boa, não sei o que me dá mais nos nervos: a espera pela autorização da cirurgia em si - o nome é "craniotomia", aprendi hoje - ou a explicação patética para cada etapa da demora.

Tendo dito isso, caros leitores, por motivos de força maior, deverei me ausentar por algumas horas hoje daqui do meu diário de bordo. Tenho, na verdade, dois afazeres inadiáveis: tentar ocupar a mente com qualquer coisa que não tenha a ver com aneurismas em geral (= à pilha de jornais, revistas, livros e DVDs que tenho aqui) e chorar até ficar com dó de mim.

Fui.

Inté.

Uma hora, hoje ainda, eu volto, e, de preferência, com alguma novidade dessa ópera bufa.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Post especial para quarentões em geral: mordam-se de inveja os que curtiam o The Mary Tyler Moore Show há uns 250 anos

Meu pai acabou de me trazer de casa minha caixa de DVDs da primeira temporada do "The Mary Tyler Moore Show" - série que eu assistia na TV aqui, pirralha -, que comprei na pacata Minneapolis, quando ganhei uma bolsa pra jornalistas estrangeiros, em 2002.

Fiquem aí com a abertura do seriado e com uma confissão: no final, a fofa joga o gorro para cima, gesto que virou uma estátua numa praça qualquer de Minneapolis, onde é óbvio que tirei uma foto ridícula, pendurada no monumento. No coração, naquele dia, juro que me veio a terrível sensação de que boa parte dos motivos que me levaram a virar jornalista passou por essa comédia deliciosa dos anos 70.

Boca grande, claro, é mal de família

Desde 20 de setembro - que foi o dia em que descobri o primeiro aneurisma no meu coco -, neurocirurgiões passaram a ser uma gente que mora no meu coração.

E meu pai querido é um ser que mora no meu coração desde alguma outra encarnação.

O problema, dia desses, foi a interação das duas partes queridas durante a visita de rotina de um dos médicos que vão me abrir o coco.

Pergunta difícil pra lá, resposta assustadora pra cá, eu, jornalista amarelona, em algum momento, desisti de saber todos os detalhes da cirurgia. Até que meu pai, doce Nanão, carpinteiro por hobby de excelente cepa, que sabe tudo de serra, adivinhem, começou a interrogar o homem acerca da broca que iria ser utilizada na minha cabeça.

Na boa, não sei nem reproduzir o diálogo. Entrei imediatamente num stand by mode pra que meu cérebro - já bichado, o coitado - não registrasse nenhuma informação daquela conversa de "carpinteiros". Mas dei mole e acabei ouvindo que, em bom português, uma broca qualquer vai me abrir um pequeno furo na testa, que já vai estar sem a pele depois da incisão que será feita no meu couro cabeludo, claro. Ah, sim, esse "buraquinho" será ampliado com uma serra similar à uma que tenho a impressão de que meu pai chamou de "tico-tico".

Claro que, a certa altura, dei um grito quase tribal - "vem cá, será que dá pra parar com essa conversa?" -, mas ainda ouvi do meu doce pai, gaiato até o último suspiro da filha querida:

- Se o senhor precisar, doutor, eu tenho umas brocas em casa.

Em compensação, acabo de fazer os exercícios respiratórios com a fisioterapeuta aqui, na cela, ao som do Sinatra. Man, that's cool!

Fiquem aí com a trilha do inspira-expira meu de cada dia:

Ah, sim, hoje é meu 19º dia na cela 319, aqui, em Olaria. Agora, com TPM

Se alguém der "bom dia", leva com a mão na fuça - quando eu sair daqui; se eu sair daqui e se tiver condições de enfiar a mão na fuça de alguém, naturalmente.

Num tô nada bem.

Acerca do medo de morrer

Ok, a verdade é que o título brilhante aí em cima me ocorreu durante o café da manhã. Aí, pensei: "hoje, vou escrever algo genial e bem-humorado sobre o medo da morte", coisa que, devo dizer, nunca, nunquinha mesmo, senti, de verdade, nos meus 45 aninhos de pura travessura.

Ocorre que o fato é que amarelei total e perdi completamente a vontade de ficar falando sobre a possibiidade de eu não estar mais aqui, por exemplo, pra ver o Gugu e o Silvio Santos com meu pai no hospital, o que já virou rotina aqui na cela 319 - a cirurgia deverá ser na quarta ou na quinta, segundo a última bolsa de apostas.

Em compensação, já fiz o favor de me travestir de ser humano bem resolvido e já comecei a tomar providências práticas para o caso de eu morrer ou ficar em algum canto entre a razão e o estado vegetativo depois da cirurgia. São coisas do tipo deixar cheques assinados e as senhas dos meus cartões com meu pai pras despesas extras do hospital; informar a meu povo e ao hospital que quero que meus órgãos sejam doados - o que não deve incluir nem o fígado chumbado de tantos anos de cachaça nem os pulmões com enfisema, naturalmente -; e avisar que vou deixar de "herança" pro meu afilhado todos os meus pen drives e meu laptop com vários contos inacabados e os rascunhos do livro de crônicas de Praga, que nunca terminei quando morei lá, pra que ele dê o jeito dele de tornar públicos, nem que seja num blog - o que é uma sacanagem sem dó com o rapaz, eu sei.

É isso. Resumindo, é isso.

domingo, 9 de outubro de 2011

Foram tantas as emoções nesses últimos dias, que esqueci que tô em plena TPM

Considerando que a nova expectativa é que a cirurgia deve rolar na quarta ou na quinta e, depois, ficarei dois dias no CTI, um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar quando eu vou menstruar.

Na boa, por que, meu Deus, por quê?

Apesar de estar no 18º dia de detenção aqui, em Olaria, acordei num bom humor insuportável. Cantem comigo: "Smile, though your heart's aching..." (*)



A verdade dos fatos é que, apesar de todo o enlouquecimento por conta do zilhão de informações que tenho recebido dos médicos, não tenho nenhuma dúvida de que estou em excelentes mãos e tive ontem uma tarde divertidíssima com duas amigas de infância, minhas irmãs queridas.

E vamu que vamu.

(*) Esta é a cena final de "Tempos Modernos", do Chaplin, que também compôs a música-tema, "Smile". "Sorria, mesmo que seu coração esteja doendo..." é o primeiro verso da canção, que a gente ouve neste clipe, só no instrumental.

Eu e minha boca grande III

Outro diálogo com um dos neuros. Foi com o que me respondeu às perguntas que eu fiz sobre os riscos envolvidos na cirurgia; um cara que me mata de medo, é fato, mas que, verdade seja dita, me passa uma segurança quase divina, falo sério.

- Como é que vai ser a parada do cabelo, vai raspar só na frente, né? etc, etc, etc

- Você tá preocupada com o cabelo a essa altura?

- Cara, tu tá falando que eu posso sair daqui caolha e sem andar. Alguma coisa eu tenho que salvar neste corpo, uai.

Eu e minha boca grande II

Diálogo com outro neuro que vai participar da cirurgia, num dia desses:

- É verdade que tem um ossinho na frente de um dos aneurismas, o "binladenzinho"?

- Sim.

- E aí?

- Se precisar, a gente remove esse ossinho.

- Hein?!?

- Fica tranquila, não vai fazer falta, não.

Preferi rir amarelo e emudecer, engolindo duas perguntinhas básicas que me ocorreram: "Tu já combinou isso tudo com Deus?" e "Deus botou esse ossinho aí só pra sacanear quem tem aneurisma no lado direito da cabeça, né?"

Mas, sei lá, achei melhor não criar nenhum tipo de atrito com um dos caras que vão, quando o plano de saúde deixar, me abrir o coco.

Ando assim, quase sempre na paz - ênfase no "quase". Deve ser o Rivotril que me enfiam goela abaixo todo santo dia.

sábado, 8 de outubro de 2011

Eu e minha boca grande I

Por que paciente-jornalista interroga o neurocirurgião que vai lhe abrir o coco como se o homem fosse um entrevistado qualquer? A cada visita do doutor - que esteve aqui há pouco - e a cada interrogatório meu, aparece um novo risco envolvido na cirurgia.

Manjam bula de remédio, que fala daqueles efeitos colaterais que só algum islandês mutante de 95 anos teve em 1837?

Pois é.

Tava aqui pensando, enquanto olho pra vista de Olaria da janela da cela 319, no meu 17º dia de internação



O sujeito do plano de saúde que ainda não assinou a autorização da minha cirurgia não sabe a sorte que tem por eu não saber seu paradeiro neste lindo sábado de sol.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Novo teste de fotogenia. Tô treinaaaaaaaaaaaanu...

Ó o lenço fashion que ganhei hoje duma querida, que veio, com outros dois queridos, visitar o bunker de Olaria.

Alguém aí tem algum parente ou amigo médico?

Só pra me dar alta por uns 50 minutos pra eu ir lá em Jacarepaguá, rapidinho, pra enfiar a mão na fuça da anta do técnico que trocou "mm" por "cm" no laudo do meu último exame pré-operatório e voltar pra minha aprazível suíte 319?

Que ódio!

Claro que companheiro aneurisma continua sendo medido em milímetros, o que, como sabemos, já é problema demais na minha modesta biografia. Ah, sim, o outro aneurisma, menor, nosso "binladenzinho", continua escondido atrás dum osso, o covarde. Isso tudo acaba de me ser garantido por um dos neuros que vão abrir meu coco. Pois o homem olhou o exame, corrigiu o laudo na minha frente e me olhou com certa piedade, diante da minha estupidez por achar que eu poderia ter um aneurisma de 5 cm e estar aqui toda lépida desabafando na rede mundial de computadores à espera da cirurgia.

Mas, fora isso, tá tudo ótimo aqui, no Baixo Olaria, acreditem.

Se tá tudo bem aqui, no meu 16º dia no hospital? Tá, claro. O único probleminha é um aneurisma ter passado de 5mm pra 5 cm

Ao menos é o que diz o laudo do novo exame - aquele de Jacarepaguá -, que acabou de chegar aqui no quarto.

Portanto, das duas uma: ou isso é só um plano pra me enlouquecer ou essa história só piora.

Tá foda, meu povo, tá foda.

E vou botar Fábio Júnior cantando "Pai" e pronto, que ainda mando neste puleiro

Pai, perdoai-me, eu nunca soube o que dizer

Teve um dia nesta semana que eu me pai - mineiro viúvo de 88 anos, que vive sendo confundido com o paciente do quarto (*) - passamos horas infernais. Foi quando um dos neurocirurgiões que vai me abrir o coco veio aqui e, a meu pedido, que fique claro, descreveu, com riqueza de detalhes, os riscos que corro ao concordar em fazer a cirurgia. Vão de ficar cega do olho direito a não andar mais, considerando, naturalmente, a possibilidade de as duas coisas acontecerem ao mesmo tempo.

Claro que ficamos os dois em choque, nos emocionamos, e o resto do dia não fez mais sentido; no ar, um misto de pavor, tristeza e uma saudade adiantada um do outro. Falamos pouco do quanto nos amamos, mas desconfio de que, se um dia houve, não ficou mais nenhuma dúvida quanto a isso. À noite, demos uma cochilada de mãozinha dada. E, desde então, ele afirma que só sai daqui depois que isso tudo acabar e eu desenvolvi a estranha mania de acordar à noite pra cobrir meu veio, que se desenrola do cobertor lá pelas tantas da madrugada - informação que é, inclusive, nova pra mim.

Começo a desconfiar de que a turma que diz que sou uma mulher "de sorte" porque descobri os dois aneurismas antes que eles estourassem tem lá sua razão.

(*) É sério. Sem sacanagem, no dia que tive que sair daqui pra fazer o exame em Jacarepaguá, por muito pouco o cara da ambulância não amarrou meu pai na maca.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Aviso aos assinantes

Meu povo querido que assinou o poster da Mafalda com o Obama, vou dar um jeito de mandar e-mail procês tudo, agradecendo o carinho imenso. Só não tento descobrir vossos endereços agora, em pleno horário de fechamento lá no jornal, porque, se o fizer, não vou precisar de aneurisma pra partir desta pra melhor.

Por ora, um beijo enorme para cada um de vocês.

P.S.: Tinha postado uma foto minha aqui, com um presente sensacional que ganhei hoje durante a visita dos colega tudo - era um presente roliço, róseo, com duas mãos com cinco dedos cada e que vibra, pra me relaxar... Mas me achei gorda e descabelada demais, deprimi e deletei. E pronto.

E eu posso com isso?

Momento não-tem-preço hoje aqui no Baixo Olaria:

Ó só a ilustração do cartaz que uns pessoal querido do jornal (já falei aqui que sou jornalista? não lembro mais) fez e trouxe pra mim hoje. Veio cheio de recadinhos carinhosos da galera que não veio, que só não me levaram às lágrimas ainda porque acho que, se chorar a emoção que cada letrinha do presente provocou, periga eu desidratar e algum palhaço aqui me enfiar soro na veia pela 237ª vez nesses QUINZE dias internada. Agora, por exemplo, estou esperando que o moço do plano de saúde autorize o moço do hospital a me cortar o coco pra debelar dois aneurismas cerebrais, entre eles, um "binladenzinho", que achou de se esconder num ossinho da minha fuça, qual fora bunker no Paquistão, etc, etc, etc.

Isso não me sai da cabeça

Acho que sonhei com essa música do John Lennon ("Beautiful Boy") hoje. Tem uma hora que fala assim: "Life's what happens to you, while you're busy making other plans." ("A vida é o que te acontece, enquanto você está ocupado fazendo outros planos.")

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não sei quanto a vocês, mas EU FUI...

...de ambulância do Rock in Rio fazer um exame pré-operatório em Jacarepaguá.



Sem perder o gramur, naturalmente. Especial atenção ao esmalte, que ainda resiste.



A verdade é que a única coisa que me ocorreu durante os 30 minutos de viagem entre o hospital, em Olaria, e a clínica do exame, em Jacarepaguá, foi a imensa quantidade de filmes que já vi com cenas em que a porta da ambulância se abre, e o raio da maca sai rua abaixo com alguma anta amarrada à tal (como esta humilde escritora) gritando, histérica, em close.

A obsessão só descolou do meu cérebro bichado quando me lembrei que já tinha andado de ambulância uma outra vez na vida: em 2004, em Praga, com o pé torcido, inchadaço, com dois tchecos tentando preencher a ficha da paciente em questão sem falar uma única palavra em inglês. Mas isso é, como sabemos, outra história.

Ah, sim, nos dois casos, os tarados dos motoristas ligaram a sirene, e eu tive, nas duas ocasiões, a certeza absoluta de que eu iria virar o defunto "morto ao chegar" em pouquíssimos minutos.

P.S.: Léo, eu sei que a luz do flash do escroto do meu BlackBerry estourou na minha mão, tá? Me poupe.

Ah, sim, bom dia! Fiquem aí com Francis Albert: "That's life... And it's funny as it may seem..."

Suíte 319, dia 14. Vou passear em Jacarepaguá. De ambulância. Ê!



A verdade é que a plaquinha "Dieta Zero" pendurada na porta da suíte 319 pela enfermeira amiga significa que estou em jejum e não posso tomar nem água, tudo por conta de mais um exame pré-operatório que farei fora do hospital: chama Angio TC.

Sabe quando o pedreiro fica interrogando a gente antes de quebrar a parede pra saber se passa algum cano onde ele vai fazer o buraco? Pois é. A tal da Angio TC é mais ou menos pros moços que vão me furar o coco - são três - não provocarem nenhum vazamento, digamos, desagradável. E vamu que vamu.

Fui.

P.S.: E repito aqui o que diz o meu cartazinho da porta, que não consigo fotografar direito de jeito nenhum, mas já virou sucesso de público e crítica aqui no andar: "Abandonai todo o pessimismo vós que aqui entrais. E num perguntai, por caridade, por quem os sinos dobram. Vai que... (Dante Alighieri, John Donne e Rozane Monteiro)"

Teste de fotogenia


Na boa, a ideia de raspar o coco todo logo e adotar um visual cool por um tempinho começa a virar quase um projeto. Tô com medo de mim.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Reflexões sobre a vida pra cá, medo de morrer pra lá, a verdade absoluta dos fatos é que...

.. tá me dando uma vontade imensa de pular de asa delta, fazer uma tatuagem enorme, raspar a cabeça toda - nem vou precisar, a cirurgia só vai atingir um pedaço pequeno do coco - e agarrar, na cara dura, um gataço sensacional que dá pinta aqui pelo hospital.

Também tá me dando uma gana de fazer uma lista de pessoas queridas pra quem eu gostaria de mandar cartas à mão dizendo o quanto as amo e como fui feliz por ter cruzado com elas nos meus 45 anos por cá neste planeta estranho.

Mas devo admitir que a vontade que está tomando proporções incontroláveis é a de listar babaca por babaca que me atazanou nesses 45 anos sobre a terra e mandar e-mails curtinhos dizendo, assim, o quanto eu os acho... babacas.

Posso?

Ou vocês diriam que é prematuro?

Vai que eu não morro, né?

Tá bão. Passou.

Tava aqui pensando

Quando soube que tenho dois aneurismas no cérebro, pensei imediatamente: "Caralho, eu posso morrer a qualquer momento". Aí, fiz o que qualquer ser humano normal faria: me acabei de chorar e tive a certeza absoluta de que sou uma desgraçada.

Passado o susto inicial, prestes a ter uma junta médica mexendo nos meus miolos, me ocorreu o patético-elocubrativo-paradoxal de tudo isso: na boa, quantas pessoas que a gente conhece sabem exatamente quando vão morrer?

Deu vontade de ouvir e pronto. Cantem comigo: "Dizem que guardam um bom lugar pra mim no céu logo que eu for pro beleléu..."

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Nascemos sabendo que a esperança é a última que morre

Não sei quanto a vocês, mas a vida me ensinou que a paciência é a primeira.

Alguém aí sabe como postar a janelinha de um clipe do YouTube aqui no blog ao invés de colocar só o link? Eu sabia fazer isso, mas parece que mudaram o procedimento, e eu nunca mais consegui postar algo além do link, o que dá um trabalho danado pros meus leitores, uma gente que mora no meu coração.

Suíte 319, dia 13: certa melhora de humor, depois de entubar, de vez, minha presença diante do inexorável. Um aviso aos visitantes, pois:



Fiz de tudo pra melhorar a qualidade da foto tirada do meu BlackBerry veio de guerra, mas não consegui e já perdi a paciência, naturalmente. O que tá escrito no aviso aos visitantes é: "Abandonai todo o pessimismo vós que aqui entrais. E num perguntai por quem os sinos dobram. Vai que..."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Relevem aí a falta de humor, mas é exatamente assim que me sinto hoje:

E esse clipe que achei por acaso me pareceu irônico demais. Cantem comigo:

"Socorro, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha..."

Suíte 319 (pois é, mudou), dia 12: história sem fim

Meus queridos, só agora voltei a ter um laptop no quarto novo, depois de sair da CTI. Nem vou poder teclar muito porque escrever aqui com essa coisa do soro na mão direita não tem nenhuma graça.

Vou logo à informação que interessa: o procedimento com o cateter não deu certo. À certa altura, minha vida ficou em risco, e o médico achou melhor não insistir. Portanto, agora, a indicação é, mesmo, cirúrgica. Ou seja, em linguagem simples, objetiva, jornalística e direta: vão me abrir o coco. Talvez na sexta-feira. Aviso quando marcarem.

Juro que dou mais notícias quando o humor der uma melhorada. Por enquanto, tô algo entre puta e triste, além de apavorada, naturalmente.