Quando eu tinha lá pelos meus nove anos e estava prestes a fazer a primeira comunhão, chegou o dia de fazer a primeira confissão. Aí, eu, que já achava o conceito de pecado bastante relativo, fiquei completamente confusa.
Como eu não era a única criança a começar a desenvolver um horror atávico à confissão, a freira da escola deu exemplos de pecados, pra gente poder confessar: "Pode ser uma coisa como brigar com o irmãozinho ou com a irmãzinha ou fazer pirraça com a mamãe." Eu, que era filha única e, por algum milagre, não considerava que tivesse tido alguma conduta condenável com minha mãe naquela semana, inventei um pecado. Simples assim. Nem lembro mais qual foi. Mas tenho a certeza absoluta de que inventei, vírgula por vírgula, o primeiro pecado que confessei a um homem que não conhecia.
Lembrei disso agora, que realizei o sonho dos aneurismas próprios, sem sintomas. Internada há uma semana aqui, tenho ficado sem graça a cada vez que o médico vem me perguntar se está tudo bem e eu respondo que... "está sim, doutor".
Nem pensei em inventar sintoma, que, como sabemos, já tenho problemas demais. Mas, olha que coisa, ontem à noite, fui dormir com dor de cabeça e certo desconforto nos olhos. Depois de ler horas parte da minha pilha de livros e revistas. Com uns óculos que acho que preciso trocar. Sob uma luz fraquinha, da lâmpada que fica em cima da minha cama.
Diagnóstico óbvio hoje de manhã:
- Fica tranquila, é só o cansaço da leitura.
- Ah, tá. Foi mal aí, doutor.
2 comentários:
Inventou um pecado? Isso é o início da ficção. Adorei o texto.
Juro que inventei. Fiquei tão apavorada, que achei que o esporro por não ter o que confessar seria maior do que pelo pecado em si.
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